Da saudade. Ah mas é um sentimento muito batido. Se calhar já nem é sentimento de tanto que lhe bate o vento. É amancebada da lembrança; ficam ali as duas muito chegadinhas, pudicas, à espera de ver qual é que dá o primeiro passo, que nunca será em falso, porque não se podem atraiçoar, estão as duas de mãos dadas, coladas, e viradas para o mar. Para o mar? Mas que lirismo tão gasto, que estepe tão ondulada e com tão pouco pasto, a saudade merece melhor, quando é saudade duns cabelos ao vento, dum tempo sem momento, e dumas palavras de alento. Então e a lembrança, não serve para nada, fica ali encolhida só a olhar para a ferida? Vá, chega-te à frente, oh memória, mostra  que és gente. Sangra, dá-te ao manifesto, ajuda a alma que eu agora te empresto a não se vender à saudade a qualquer preço; eu mereço: ter uma saudade benigna, feita de pequenos ganhos, entrelaçados em estrelas, que mesmo fora dos baralhos, são beijos,  e vou mas é metê-las no meu saco dos tesouros a rosnar quentinho como os besouros, ó filhas da mãe, só sofre quem as não tem. As saudades e as estrelas.



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