Como ninguém lê este alçapão, a Dra Girassol mandou-me mesmo fazer um check up, e os sacanas, face ao quadro, internaram-me e puseram-me logo a soro. Agora o tratamento é todo misturado, às pinguinhas e pela veia abaixo



Complexo místico-vitamínico: unhaca, gajas e blogs



Acabou há uns dias o mês de Maio. Mês de Nossa Senhora. O que eu queria mesmo era que no dia em que me encontrasse com Ela, tivéssemos uma converseta mais ou menos assim.



Eu – Posso entrar?



N.S. – Filho! Olha quem é ele ! Anda cá meu malandro.



Eu – (Isto começa bem...Ela reconheceu-me...deve ser pelas piores razões...Vou ter que dar a volta a isto por cima, caraças) Aqui estou, nas suas mãos...



N.S. – Olha lá, aquelas piadinhas que tu andaste a endrominar, nem todas caíam muito bem cá em cima, sabias?



Eu – Mas sabe...eu às vezes descontrolava-me, sabe como é, torna-se uma coisa vertiginosa e...



N.S. - Sim. Sim. Não precisas de te justificar. Eu sei do que a casa gasta. E também já tive de safar imensos “artistas“ com a mesma mania que tinham muita piadinha...e muitos nem tinham piadinha nenhuma...e a outros até tive de lhes repintar o cabelo antes que o meu Filho os visse naqueles preparos...



Eu – Mas não me diga que não se riam com coisa nenhuma...



N.S. – O nosso problema é que como no Céu não há “tempo”, e como nós já sabíamos o que tu ias dizer, o efeito surpresa desaparecia. Desculpa lá a desilusão.



Eu - Ó Mãe do Céu, não tem nada que me pedir desculpa. Eu até só tenho é que agradecer que tenha vindo falar comigo, e preocupar-se e...



N.S. – Então tu achas que uma mãe deixava assim um filho apeado, neste labirinto da prestação final de contas! Eu andei sempre de olho em ti, e até expliquei muitas das tuas piadas aqui à rapaziada, porque aqui há gente que passa o tempo obcecada a brincar às charadas filosóficas com o S. Tomas de Aquino, e que ainda continua tão viciada na discussão sobre o ser e a essência que eu fico parva.



Eu – Se calhar dão-se mal com as evidências, e gostam de alimentar a dúvida para mostrar que se esforçam muito por acreditar.



N.S. – Também não sejas assim. Eu topo-te a dar aquele ar de que és muito duro e irónico com os outros, mas depois já te vi muitas vezes a amanteigares-te na conveniência.



Eu – Ó Santa Mãe não te escapava nada, mas sabes como é no mundo dos negócios...É pá agora é que estou ver, então as alusões às bodas de Caná devem ter sido aqui muito bem acolhidas não?...



N.S. – Se eu levasse a peito tudo o que tu dizias, mais valia teres trazido um ar condicionado portátil, se é que te deixavam entrar com ele ali para aquele empreendimento que tem o senhor encarnado e de chifres à porta...



Eu – Foda-se, aquilo ali é mesmo o inferno? Ai desculpe saiu-me...



N.S. – Sem prejuízo de anotar o uso dessa palavrinha indecente aqui no caderninho, porque faz parte do regulamento, faço-te notar que já vi aqui uns anjos a usarem umas palavras dessas no meio dum jogo da bisca (é o que fazem quando o movimento está mais fraquito), e já ouvi cada coisa ao Sto Agostinho no jogo de Scrabble que até corava a coitadinha da Sta Teresa, que ainda hoje está de olhos extasiados a olhar para o meu Jesus. (aqui até gozam com ela dizendo que é a Solnada do pós idade média)



Eu – Bem, não se de pode dizer que também não sejam dados à brincadeira...nem sabe o peso que me tira de cima. Eu andava com isso atravessado, principalmente porque desde que comecei a escrever numa parvoíce dum “Desfazedor”, eram umas atrás das outras.



N.S. – Nós reparámos nisso e ...



Eu – É pá, vocês liam mesmo aquilo????!!!



N.S. – Temos de ler tudo! Até o Prado Coelho e o Abrupto!



Eu – Então mas o inferno não é ali ao lado?



N.S. – Não te estiques com as piadinhas, porque já estás na corda bamba e um soprozito meu leva-te desta para melhor



Eu – Vê...é que eu não me controlo mesmo, isto deve ter a ver com a natureza humana, sei lá, com essa coisa da inevitabilidade, com o corpo ser fraco, com o pecado original, ou se calhar a água benta do meu baptismo era de contrabando, e...



N.S. - Também já demos para esse peditório. Olha lá filho, agora cala-te um bocadinho porque acho que vai haver retoma em Portugal e eu tenho de ir ouvir as notícias



Eu – Não me digas que já andam a fazer milagres nas tuas costas?



N.S. - É que aqui agora concessionámos à iniciativa privada os milagres mais difíceis



Eu – Então o Juízo final agora também deve estar entregue a algum grupo multinacional? Vejam lá se aquilo cai também na mãos dalgum chinoca, dos que agora estão por todo lado...



N.S. - A conversa está a desviar-se, já sei que és muito bom nisso, mas nós estamos aqui é para tratar do teu caso.



Eu – (Isto aqui, está visto, não vai com duas balelas...) ó Santa Mãe mas eu já sou considerado um “caso”? (Isso não é muito bom sinal) Repara que eu nunca pus sequer uma mulher em trajes menores lá no blog, e sempre que me referi a elas foi no maior respeito. Até já me chamaram «bendito menino»!



N.S. - Olha lá, essa coisa de pensares que os pecados têm todos a ver com o sexo demonstra uma grande estreiteza de alma, não?



Eu – (Aish...granda boca. Agora até aqui levo baile também) Ó minha Mãe do Céu, eu não queria dizer isso, era apenas um exemplo, uma forma de expressão, é apenas a demonstração de que somos reféns da palavra e dos conceitos, somos...



N.S. - Chega filho. Não gastes o teu ranhoso latim. São estas as opções que eu consegui arranjar para ti : Passas uma temporada no Purgatório e podes escolher: Ou ficas num beco de lampiões que recitam todo o dia a Florbela Espanca, ou então ficas numa praceta com uns espíritas que se converteram à pressa e declamam a Rosália de Castro...



Eu – Ó Mãe de misericórdia, dá-me uma segunda oportunidade, eu se calhar deixei-me envolver demais por um ambiente pagão, hedonista e superficial, peço-te, até ao Durão Barroso dão mais oportunidades, até ao Ferro Rodrigues lhe permitem a ilusão dos justos.



N.S. - Bem... o mais que eu te consigo, e é porque nunca maltrataste os animais e o S. Francisco é muito sensível a isso, é voltares lá para o teu computador, e passas a escrever todos os dias como aqueles blogs que falam de Deus com serenidade e responsabilidade, apelam à conversão e à compreensão nas almas inquietas, e fomentam a alegria que deve inundar os corações peregrinos...



Eu – Ó minha Rosa Mística, ó Rainha dos Anjos, eu faço tudo mas não me peças isso, eu se for preciso até digo bem do blogs protestantes para demonstrar ecumenismo, ou cito os salmos,ou...



N.S. - Também não são necessárias lamechices, olha, em alternativa, estão-me a sugerir aqui atrás, podes abrir um "fotoblog", pões umas fotografias do nascer do sol, ou dum mar calmo e prateado, e vais inserindo pensamentos do Pascal.



Eu – Oh Estrela da Manhã, eu se for preciso até mando uma carta para o Abrupto a comentar os quadros dele, mas por amor de Deus, fotografias com textos de adorno é que não me peças!



N.S. – Pronto meu doce...eu estava só a pôr-te à prova, podes-te manter fiel ao disparate sem eira nem beira, mas tens de prometer uma coisa: não fales do que não sabes.



Eu – Então mas isso agora é uma censura radical. Assim não posso escrever sobre nada!



N.S. – Olha desenrasca-te, fala de política, porque assim nunca te enganas, tens sempre com que te entreter, e escusas de perder o tempo com gajas inacessíveis, ou a citar o Baudelaire ou o H. Michaux. E livra-te de citar o marquês de Sade, que eu bem sei estiveste quase noutro dia...



Eu – Ó valha-me Deus. É pá, o que é que o meu Anjo da Guarda tem andado aqui a fazer. O sacanita deve passar os dias na porra da bisca lambida, estou mesmo a ver.







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