“Toni convidado para suceder a Jesus”

Título dum jornal referindo-se à possibilidade de mudança de treinador do V.Guimarães



A possibilidade de ser “Toni” é um estigma que pode perseguir qualquer mortal que tenha por nome António. Eu dissimulo muito, é verdade, mas por acaso chamo-me mesmo António. Tenho pois essa espada apontada à frágil imagem que incorporo, adocico e avalizo. Mas ai de quem!

Ora quando leio que um Toni pode substituir Jesus, há algo que “s’alevanta” na alma, e que me faz repensar toda a existência! Essa mera possibilidade de um Toni vir a representar a perpetuação da imagem redentora do Filho do carpinteiro deixa-me num êxtase semiótico sem paralelo. Muitos foram os nomes escolhidos, mas poucos os eleitos! Poder ser Toni é então hoje uma honra que se me encavalita e acocora de agradecimento. Todos os outros nomes que se ponham na bicha. Nunca uma corruptela virou mito. Nunca um diminutivo chegou tão próximo da divindade.



Confesso que não sei como é que este empolgante tema se enquadra nos dias de encruzilhada que vivemos. Confesso que nem sei porque é que perdi tempo a escrever estas inutilidades. Confesso que me estou a borrifar para o nome que me chamem (desde que não seja Toni, claro). Mas também confesso que não me estou a recordar de nenhuma poesia espanhola de relevo, de nenhuma explicação sobre a geometria política do terrorismo, de nenhum artolas para citar; hoje as perguntas vão ficar solteiras e os melros recolhidos no seu ninho.



Resta-me pois ser toni, e esperar pela minha vez de trotar quando os outros se cansarem das cortesias.

Só que eu apenas gosto de rodeo, nunca monto a sério. Assim estou sempre preparado para cair. Qual Toni.

«Bem aventurados os pobres de espírito». Mas não abusem dessa ventura, claro.



Ora se ninguém goza comigo, eu tenho de fazer pela vida.

Sem comentários: