Sexo

O notíciolítico



O sexo simula a nossa condição. Não foi concebido para ser percebido, é banal, dissimulado, óbvio e provincianamente misterioso.



Está ali, na berma da estrada, pode funcionar como escapatória, mas também rende bem como “vomitatório”, GNR de turno, estação de serviço ou via sem saída.



Dar-lhe um rumo parece torná-lo redondo e redundante, mas a doutrina católica e o “Freudianismo” colocaram-no nos dois extremos da barricada. “Os dias que correm” servem-se dele para vender cacofonias paramentadas de letra de imprensa, drageias, teorias, congressos e acórdãos de tribunal.



Deixa-me desconfortavelmente indiferente a “pornografização” dos sentidos, mas quase me revolta a “terapeutização” sexual dos sentimentos. De qualquer forma, passo ao lado da sua banal ridicularização e da sua ridícula demonização. Ou seja, estou inutilmente à toa. Sem Descartes. Como todos.



O sexo, infelizmente só é ambíguo na sua simbologia. A sua tão flagrante “obviedade” baralha-nos: nada pode ser assim tão simples. Toca então a abafar conceitos e... ou dá ejaculação precoce, ou clítoris desinteressado, ou recalcamento bem amanhado, ou desordem moral, ou flor de lótus, ou complexos sofisticados, ou jogos de sedução, ou best-sellers. Já raramente nos ficamos pela simples constatação do tipo “porque a gaja é boa como o milho”, ou “porque tenho a mulher lá em casa à minha espera”.



Fala-se agora da sexualização do real. Certamente para vender palavreado a metro. O real não é sexual porque é impenetrável; porque não é orgásmico (antes constantemente sensaborão); porque não ejacula (vive em carrocel fechado); porque não tem latejamentos pélvicos (o fluxo de sangue é sempre reduzido), porque não tem rituais de acasalamento (é solitário e hermafrodita)



Tendemos pois, ou para as receitas de padrão ostensivo-dominador, ou científico-dependente, ou tímido-negligenciador, ou fantasioso-lírico-alegórico, ou satírico-depressivo, ou meramente “noticiolítico”. Raramente somos aqueles que apenas fornicam copularmente, quando querem, podem e devem.



Deus bem podia ter deixado isto mais bem explicado antes do juízo final.

Bem,...que se foda. (também era melhor se eu não acabasse desta forma previsível)

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