A mola do olhar



A “revelação” de Arshile Gorky na blogosfera pelo Outro-Eu é um momento muito feliz. Sem querer enfrascar isto em detalhes biográficos apenas gostava de deixar escrito algumas notas:



A. Gorky não marca apenas a transição do surrealismo ( que nunca abraçou realmente de alma e coração) para o expressionismo abstracto; mais importante : é talvez a primeira chave da libertação da dependência americana em relação à pintura europeia.



Durante os primeiros anos apresenta - sem complexos - formas quase ostensivamente “imitacionistas” em relação a Picasso, o que o levou até a ser alvo de imensos comentários jocosos. Mas ora aí está alguém que, pressentindo o grilhão da originalidade, mas sabendo fugir à prisão da imitação, acabou por ser um verdadeiro inovador americano.



A sua ligação ao Surrealismo existe, claro, e é inclusive atribuída à amizade com Roberto Matta a origem da sua viragem criativa. Como muito distinta memória desta ligação fica um texto de André Breton a prefaciar o catálogo de uma das suas exposições em New York. É um dos textos mais felizes sobre arte que já li ( está reproduzido num catálogo da Gulbenkian) e do qual retenho que Gorky foi o primeiro pintor a quem foi revelado o segredo da “mola do olhar” e assim descortinar o fio condutor das coisas. Voltarei a este texto noutro dia , pois mesmo estando marcado pela idiossincrasia surrealista é um texto precioso.



Obrigado CVM. Por me ter espicaçado o olhar. Venham mais destes.

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