Em todo o caso mesmo que a ‘ave da poesia não me pipile
dentro nem se debata contra as grades’ da realidade sou forçado a reconhecer
que apenas o discurso poético nos permite uma verdadeira e inteligente alienação.
A alienação como processo essencial da mente sã deve ser exercitada com uma
periodicidade bem definida e, felizmente, hoje temos muitas outras ferramentas
que o propiciam de forma grátis, benigna e de fácil acesso.
A maior conquista do liberalismo
(quem não é liberal deve ir ao médico ou entregar-se às autoridades) como
prática revela-se quando retiramos prazer de algo que nos envergonha, quando
aprendemos com alguém que é ignorante, quando nos interessamos por algo que não
tem interesse nenhum. Sermos nós a gerir a nossa própria inutilidade é uma
conquista à qual nunca daremos o devido valor.
Esta ligação íntima entre a alienação como terapia e as
chamadas redes sociais é algo que tem de ser bem sublinhado, até emboldado e
mesmo MAISCULANIZADO. O fenómeno do discurso (escrito ou lido) que se torna
absurdo pelo mero facto de estar colado a uma realidade virtualmente construída
é uma das grandes conquistas dos tempos modernos (uma expressão que se poderá
sempre usar sem perder a sua força). Uns carolas escrevendo kkk & lol
tornam platão e a sua caverna dois elementos supérfluos - mesmo que muitos com
isto fiquem superfulos.
Tudo isto para dizer que estou super animado e optimista com
o estado do mundo que gira em volta de algo que nos habituámos a chamar de
redchossiash ou sochalmidia. Finalmente conseguimos criar um submundo em regra inofensivo,
caricato, hilariante, básico e que, por regra, nos faz sentir as pessoas mais
inteligentes, esclarecidas e singulares do universo.
Podemos mesmo dizer que apenas, e finalmente, agora nos
conseguimos livrar em definitivo de kant e que, assim, se deu a real translação
do, sobrevalorizado, umbigo para aquele local que, com elevação literária, hoje
denominamos por olho do cu.
Qualquer percursor da arte abstracta ou dos primórdios do surrealismo
ficaria orgulhoso do percurso anatomicamente radical dos seus descendentes do socialteclado.