Tirei uma hora para escrever. Graças a Deus doem-me as
costas e assim vão parecer três horas. Nada estica melhor o tempo do que uma
moinha. Ou isso ou ver uma mulher feia. Uma mulher feia também é um bom
esticador de tempo porque ficamos a pensar com que Deus estaria distraído quando
aquela aventesma foi parida, ter-se-ia o criador esquecido daquele adn de
molho? A beleza não é fundamental descobrimos depois de passar meia hora que
afinal eram só 3 minutos. Tenho a unha do polegar direito estupidamente mal
curvada, produz um efeito abobadado mas torto, incapaz de inspirar o mais desinspirado
arquiteto de catedrais. Quantas catedrais se terão inspirado em dedos de
polegares? Foram mais 5 minutos disto que afinal renderam 25 em tempo de
ilusionista. Todos somos capazes de tirar minutos da cartola. Noutro dia vi um
filme que me roubou 5 anos de vida mas que apenas durou 1 hora e picos sem
contar com o hambúrguer que comi depois. Ir ao cinema é uma coisa estúpida,
própria de quem precisa de espaço para ter emoções fortes e não lhe chega um
sofá. Qualquer dia haverei (o hei-de foi amaldiçoando) ver um filme apenas
sentado num banco e com uma lata de pistachios ao colo. Um ecrã pequenino é
muito mais ajustado ao tamanho da alma, obriga-nos a tomar mais atenção,
perde-se mais a noção do tempo. Estou já prai há 20 minutos nisto e daqui a
pouco tenho de fazer. Não fazer nada dá trabalho já tínhamos todos ouvido dizer
e confirma-se. A dor passou para a anca. Felizmente não gosto de dançar. É um
assunto polémico, sei que é uma limitação mas nunca consegui resolver. Tinha de
ser forçado com jeitinho e ninguém apostou bem nisso. Tenho pena. Sinto que
teria dado um bailarino de excelência. Muito melhor que escritor e mesmo assim
estou aqui, a fazer uma figura muito mais parva do que se estivesse a dançar. Faltam
aí uns dez minutos para abandonar a minha hora livre. Nem foi nada uma hora mas
nós precisamos sempre de arredondar. Quem não gosta dum número redondo. Sempre
estranhei a incomodidade em relação a números esquinados. Estive 43 minutos sem
fazer nada. Um computador, uma fugaz mulher feia, duas ideias reprimidas por
serem obscenas, mais duas postas de lado por difíceis de desenvolver, no que consiste
um verdadeiro hino ao melhor cocktail de vício que se pode beber: preguiça e
lascívia. Passou mais uma hora e nem sequer dei um paço (escreve-se passo) de dança, apenas fodi
uns quantos bits e forcei a bateria a dar o lítio o que também não deixa de ser
a sua obrigação.
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2 comentários:
oba! (tenho andado a usar uns tradutores manhosos):)
Oba!
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