O anti tweet




Um pouco de desprezo pela sobriedade nunca fez mal a ninguém, e o blogger está para o Twitter como a extravagante alegria meridional está para a sobriedade nublada do norte. O twitter foi feito para mentes que não podem ter muito tempo a cabeça ao sol porque a moleirinha começa-lhes logo a latejar. Aqui não, aqui qualquer frase arrastada e inconsequente nos serve de sombra e não precisamos de estar sempre em refresh. Podemos deambular pela ligeireza, cagamos para o straight to the point, e podemos beber e flirtar sem que nos venham esfregar com resgates na tromba. Aqui os Djisselbões não nos podem vir foder o juízo porque nos viramos imediatamente para uma citação da República de Platão, chamamos Nietzsche à colação e seguimos para Bingo. No Twitter temos logo que nos enervar, sacar de dois gifs e fazer umas piadas à pressa. Aqui não, aqui temos uma espécie de tweets tântricos, vamos respondendo às apalpadelas, testando as volumetrias (palavra impossível de usar o twitter porque consome logo 11 caracteres), observamos as pernas a abrir sem precisar de ir logo espreitar se há favoritos pélvicos à mostra. Aqui podemos enrabar um Djisselbão sem precisar de ser ordinários, sem nos mostrarmos muito susceptíveis, podemos arrastar-nos nas analogias, intercalar um quadro dum flamengo qualquer com uma gaja bêbeda, e isto enquanto toca um disco inteiro da Laura Marling. Deixamos passar o tempo sem ficar com remorsos, porque sabemos que depois podemos sintetizar tudo em 140 caracteres sem ter mais despesa, nem nenhum cabrão capado da flandres nos vir apontar o dedo.

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