Terrorismo de expressão



Quando Saramago quis escandalizar com o anúncio de que a Biblia mostrava um Deus cruel, vingativo, no fundo, má pessoa, confesso que fiquei, vá, pensativo. Poderia alguma coisa me ter passado ao lado, ou até ter interpretado mal, ou até, levado por uma visão demasiado poética, ter andado bêbedo de tanta parábola. Felizmente apoquentado por outros afazeres não pude ficar a pensar muito e, seguindo uma regra básica de qualquer alma sã: caguei no assunto.

Noutro dia, tentando evitar que este blog anestesiasse demasiado, abri o blogger, escrevi e depois apaguei o seguinte post:

Desmaker Consulting Group
Procuram-se arruaceiros com boa apresentação e vacinas em dia para destruir redação de revista em quebra de tiragem. Fornecem-se fulminantes e bisnagas.


No fundo, sentia falta de Saramago, daquele ateísmo ingénuo e combativo que, sob uma capa ideológica e literária, insultava a crença aproximando os crentes de Deus. Podíamos gozar com ele, claro, mas seríamos incapazes de lhe dar sequer um par de estalos, e até o ajudaríamos a aturar a Pilar se ele nos pedisse ajuda.
No âmbito do direito canónico deveria então aprovar-se uma lei para a Blasfémia teologicamente assistida, algo assim que permitisse insultar Deus, insultar a fé e a moral, mas tudo dentro daquele ambiente ora lírico ora épico, ora belicoso ora pachorrento, ora torrencial ora secante, que a Antigo testamento tão bem explorou e que nem sequer deu origem a que Lutero tenha assaltado uma quermesse para amostra.
Todo o católico deveria ter o direito canonicamente estabelecido ao desabafo blasfemo, a desablasfemia, a bem dizer.

Sem comentários: