O Divã Disto Tudo

a imagem do poder

Hoje, Carlos Amaral Dias, numa entrevista ao Jornal de Negócios, aborda a queda da família Espirito Santo como uma queda de imagem, de poder, como um partir do espelho, como uma ferida narcísica que não tem betadine prometeico que lhe valha.

A teologia moral moderna geralmente resolve estas questões dando a alguns pecados/vícios uma espécie de poder aglutinador que acaba por dispensar discursos ( e razões) mais longos. Abençoadas, assim, a ganância e a inveja que resultam óptimas para podermos passar à frente.

O chamado cidadão interessado e atento – aquilo, no fundo, que quase todos gostamos de ser reconhecidos como (apesar de Pires de Lima preferir o ‘cidadão que faz’) - tem então para escolher, a via psicanalítica ou a via moral, ou, os mais piquinhas, ficar ali a meio caminho, entre os sonhos de Sigmund e as Parábolas do Filho de Deus (o nosso utópico "werde was du bist" )

C.A.Dias (que aprecio e que, de longe, é o único pensador português que consegue competir com Lobo Antunes no campeonato das entrevistas – pena Amaral Dias ser demasiado inteligente senão era ele que ganhava o Nobel) avisa-nos que se não fosse a Branca de Neve ainda hoje a Rainha se sentiria a mais bonita do Reino. Ou seja, acaba por haver sempre um mito invisível que vem por cobro à indecência e levantar o véu da ganância, partindo os espelhos e deixando o phallus murcho.

«O poder cura no imaginário» diz CAD depois de ter deixado a entrevistadora (AMR) alarmada com o seu anterior «Não há nada que mais cure as pessoas do que o poder». Só que basicamente o poder é uma merda, mas aí já a psicanálise não se pode aventurar, pois procurando «banir as sombras arcaicas do irracionalismo e da fé no sobrenatural» (como escreveu G. Steiner na ‘Nostalgia do Absoluto) tem de fazer stop onde os irracionais e moralistas crentes entram, de Biblia em riste a cantar: «quando o fizestes a um dos meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes»


A educação cristã do olhar faz-nos focar antes a vida dos pequeninos. Infelizmente não conseguimos e estamos sempre a controlar o buraco da agulha para ver qual foi o último rico camelo que passou por lá - e como terá feito ele.

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