Passaram outra vez dois anos até lá voltar. Parecia ter tudo
mudado estando tudo na mesma. Toalhas de pano com uma tonalidade rosácea,
guardanapos cor de sangue, pratos verde pálido, copos roxos como que a querer
disfarçar venenos novos. Uma paleta anunciando um arco-irís de sentimentos
contraditórios. O faqueiro também era diferente, o garfo apresentava um inequívoco
formato de forquilha, facas sem bico tentando simular suavidade e o contorno
das colheres a esboçar a translação do astro que nos calhou na rifa. Nenhum
músculo externo de L. deu sinal de vida quando me olhou pela primeira vez. Dos
músculos internos não sei o que dizer. Comi costeletinhas de borrego, sem
molhos, sem saladas, sem acompanhamentos, sem merdas que pudessem disfarçar
qualquer porra que lá tivessem metido e que me pudesse dar cabo das glândulas.
Quando pedi a conta, veio um empregado novo, bem parecido, a brilhar como que saído
dum masterchef, trazendo-me um bilhetinho decorado com papoilas: «para ti é
sempre à borla». Procurei o olhar dela à saída mas o que encontrei foi apenas
uma silhueta encostada ao balcão. Vou pensar que me está a evitar. Evitar é
sempre melhor que desprezar. Se não podemos ter esperança resta-nos a
ignorância.
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