Os nuestros hermanos, que não podem ver nada, na
impossibilidade de arranjarem um consultor da onu porque são fracos em línguas,
desencantaram um tal de Mulas Granados - que por acaso terá participado num tal
de estudo do FMI - que escrevia artigos sob pseudónimo numa tal de fundação.
Convenhamos que se esforçaram, mas não é nada que se pareça com o nosso baptista
da silva. Aguarda-se agora a divulgação da marca da mala que vão oferecer às
suas pepas xavieres.
alô, fala dos mercados?
Seguindo
os sábios conselhos dum ex-membro da confraria do bacalhau e consultor pro bono da ONU o governo requereu o
alargamento do prazo de pagamento da dívida pública, já só falta Gaspar dar uma
mala Chanel a cada pensionista para apaziguar o tribunal constitucional e tudo
voltará à normalidade.
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dou-vos um mandamento novo
Nós somos aquele país que
acaba o ano com um baptista da silva e começa o seguinte logo com uma pepa
xavier. Por outro lado, não satisfeito com o tsunicómio criado há uns meses
atrás, o governo mete moeda e saca
dum relatório efemirizado, revelando que afinal se consegue voltar ao Estado
equilibrado de salazar e caetano ( esta expressão continua a ser bastante boa,
que fazer) sem precisar de pôr ninguém no tarrafal desde que uns quantos se
contentem em ir viver para debaixo das pontes. Como democrata evoluído estou
completamente de acordo com tudo desde que não me calhe. Como regra, o
democrata evoluído deve pensar apenas nos seus interesses e por duas ordens de
razões: a) somos os melhores a saber os nossos interesses (isto faz parte da
evolução, por exemplo no tempo do Estado de Salazar e Caetano eram eles quem
sabiam o que era o melhor para nós); b) não devemos ajuizar dos interesses dos
outros porque nos podemos enganar (enganarmo-nos faz parte da evolução, antes praticamente
ninguém se enganava porque morria relativamente cedo). Esclarecida a minha
posição, serve o presente apenas para declarar que se deus nosso senhor me
proteger presentemente prometerei votar pelo bem comum nas próximas eleições.
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A Fiscalização Sucessiva
A Magna Carta
Marília e Maurício, após
dois anos de namoro oficial marcado por uma oscilação programada entre momentos
de parcimónia hormonal e de exaltação erótica, decidiram aderir a uma fórmula histórica
e sociologicamente testada com relativo sucesso logístico por uma longa série
de gerações de alegados descendentes de Eva e decidiram-se casar em detrimento
de outras soluções antropologicamente válidas como a escravatura sexual ou a
promiscuidade.
Bem e mal alertados por
gente com boas e más experiências dotados de boas e más intenções, decidiram de
mútuo acordo, passe a redundância, estabelecer, conceber, redigir, assinar e
registar uma 'Carta Conjugal' que enquadrasse a sua futura relação matrimoniosa;
seria um documento com óbvios efeitos internos no casal mas também com
relevância para terceiros, sabido hoje que todos os terceiros são incluídos, ao
contrário do que poderia transparecer dalgumas leis da lógica simplificativa.
Foi num dia de chuva
molha-parvos que se dirigiram a um notário ali às Avenidas Novas, curiosamente
especializado em testamentos para toureiros e em divórcios derivados do
exercício de prepotência sexual feminina, a fim de deixarem solenemente
registado o documento que lhes haveria de constitucionalizar os direitos,
liberdades e garantias matrimoniais.
Outro dos capítulos mais
importantes deste documento fundamental era o que dizia respeito às amizades
que extravasassem a mera cordialidade social e profissional convencional. Ficaram definidas as «zonas possíveis para o
contacto físico» com terceiros que não parentes de 1º grau ( foram assim
excluídos todos os pontos que se enquadravam no conceito de 'extremidade',
designadamente falanginhas e falangetas, narizes, orelhas, pilas, joelhos,
mamilos, calcanhares e cotovelos - o rabo considerou-se subentendido) , o grau
de «isolamento permitido» (a pessoa mais próxima em isolamento não poderia
estar a mais de 2 metros
de alcance do olhar) e a duração destes «encontros em isolamento legal» ( meia
hora foi considerado o limite de tempo para temperaturas abaixo dos 18 graus,
mas acima desta temperatura ambiente só eram permitidos encontros em isolamento
com duração abaixo dos 5 minutos); quanto ao local dos encontros em isolamento
legal com terceiros era dada mais abertura (desde que respeitadas as normas
antes referidas) mas fora de qualquer possibilidade estavam locais onde se
constatasse a instalação, de forma temporária ou permanente, de peças de mobiliário
que permitissem o apoio de braços ou pernas ou até o aconchego lombar, e muito
menos adereços com propriedades dissimulatórias, como biombos, cortinados,
mesas de camilha ou cobertores de lã escocesa.
Uma das zonas de
regulamentação essencial é que a consagrava os princípios da igualdade. Marília
e Maurício tinham direito a tratamento igual em situações iguais, isso estava
expresso sem deixar margem para dúvidas. No entanto, não seria possível
escamotear a existência de diferenças estruturais e a sua consequência não poderia
ficar exposta às arbitrariedades das circunstâncias. Assim, se a altura mínima
duma saia de Marília podia ser regulada, o mesmo já não faria sentido para
Maurício que, dessa forma, teve de transigir numa limitação relativa à abertura
das suas camisas, que assim ficou limitada ao segundo botão, qualquer que fosse
a moda vigente. Houve, no entanto, total
liberdade para o branqueamento de dentes, o que acabou por permitir a Marília a
utilização de implantes ou alavancas mamárias, sem que para tal fosse necessário
reunir o Conselho de Concertação Glandular.
Tratava-se dum documento
longo, elaborado com cuidado, sem excessos burkânicos e num equilíbrio balanceado
de precisão e abrangência que, por exemplo, não interferia na imaginação de
cada consorte, que assim poderia perfeitamente estar a pensar no vizinho de
baixo enquanto se banqueteava nos entrecostos do parceiro, da mesma forma que
um rico pode pagar os seus impostos progressivos com boa cara enquanto chama
cabrão aos pobres, mas não poderemos aqui apresentar toda a amplitude ou
alcance desse documento de uma riqueza inquestionável.
No entanto, um importante
elemento adicional terá de ser referido. Nele ficou instituída a existência -
competências e modus operandi - do 'Tribunal
Conjugal', um orgão que deliberaria sobre todas as situações controversas que se
colocassem e que exigissem a sua análise à luz do texto - letra, pontuação e espírito
- da 'Carta Conjugal'.
Esse Tribunal era composto
por 13 membros, a saber: um pater famílias condom-free, um solteirão militante,
um libertino com provas dadas, uma divorciada ressabiada, um encornado
assumido, uma viúva alegre, um ou uma encalhada, uma mal-fodida, um frustrado
não psicótico, uma avozinha especialista em tricot, uma padreca da igreja
evangelista, uma fêmea do modelo sempre-em-prenhe, e um membro dos casais empenhados
de uma paróquia do diocese do Fundão.
O Caso
Raimundo fora um dos
namorados mais esmerados e entusiásticos de Marília e nunca se conformara com o
seu enlace com Maurício. Depois do casamento destes arrastou-se pelas sarjetas
do costume (psiquiatras, bordeis, vodka, amigas conselheiras e feias, amigas
conselheiras e boazonas, pornografia cara e barata, bolo de chocolate e séries
da fox) até que caiu em si , pôs mãos à obra e foi estudar Direito de 'Carta
Conjugal'.
Entretanto a vida de
Marília e Maurício lá ia correndo dentro da tramitação normal, com uma ou outra
ida periódica ao Tribunal Conjugal para esclarecimento de situações concretas
que iam aparecendo, das quais se destacam uma ida de Maurício às putas em Ibiza
enquanto Marília bebia Ponche com um amigo do infantário, uma exigência de
fellatio no aniversário da 1ª comunhão de Marília e a utilização por parte
desta duma máscara de Margaret Tatcher durante uma sessão em posição de
missionário (como retaliação a um preservativo com sabor a sardinha) e que
foram resolvidas com inteligência persuasória e equilíbrio por parte dos
Juízes, o mesmo já não acontecendo numa situação concreta em que Marília quis passar um fim de
semana romântico-a-dois em Veneza, enquanto Maurício queira ia jogar bridge
para Albufeira, tendo acabado os dois, depois duma decisão controversa e de
índole salomónica do Colectivo, a fazer canoagem na barragem da Aguieira.
Já profundo conhecedor de
todos os meandros do Direito da Carta, Raimundo ficou à espera duma
oportunidade para testar a adequabilidade constitucional do comportamento do
casal. A ocasião apresentou-se quando um
belo dia Maurício tentou sacar de Marília uma repetição da kamasutrica posição
retro-quadrípede como compensação de um cunnilingus efectuado depois de uma
copiosa derrota do seu clube de futebol. Marília, já de joelhos amassados, insurgiu-se de imediato com esta fria
contabilidade do parceiro, mas quando, por inércia, já estava quase a consentir
sem exigir a fiscalização preventiva do acto, recebe um sms de Raimundo a
propor-lhe um pequeno almoço na Baixa ao abrigo da regra de excepção consagrada
na 2ª Emenda do 'Acordo Conjugal' designada na gíria constitucional como
'brunch without broche'.
Aí se encontraram,
relembrando velhos tempos de uma frescura irrecuperável e acabou por ser inevitável
o desabafo de Marília. Assim, e entre um croissant misto e uma meia de leite
(Raimundo tinha apenas pedido um pingado), chegaram à conclusão que estavam
reunidas as condições para a fiscalização sucessiva da conjugostitucionalidade
de certas e determinadas práticas reiteradas de Maurício. Raimundo emitiu um
parecer, fazendo inclusivamente referências eruditas às Memórias de Adriano e
às famosas 'punhetas de roth' (como na gíria do Direito da Carta Conjugal é conhecida a possibilidade de denúncia do
contrato matrimonial quando uma das partes utiliza a auto-gratificação
solitária como escape privilegiado da frustração de expectativas), no qual dava
bastantes argumentos ao Tribunal Conjugal para determinar da prática de
repetidos comportamentos anti-conjugostitucionais por parte de Maurício e que
configuravam um inequívoco e irreparável desrespeito pela Lei Fundamental da
Conjugalidade.
Raimundo já esfregava as
mãos e fazia povoar os seus sonhos com noites escaldantes na companhia do
espírito de Marília e das respectivas carnes, quando sai o Acordão com uma
decisão inesperada e, no mínimo, controversa. Este estabelecia que o que devia
prevalecer era o Primado do Amor e da Estabilidade. Desde que o binómio
«lubrificação e intumescência» se mantivesse e desde que em paralelo existissem
meios económicos e biológicos para garantir a reciprocidade de gratificação, o
contrato matrimonial não poderia ser desfeito pela via conjugostitucional.
E foi assim que Raimundo
rapidamente passou de mãos esfregadas a mãos a abanar, e frustrada a
fiscalização sucessiva dedicou-se ao voyeurismo constitucional: mais
ejaculação, menos ejaculação, nada lhe dava mais tesão que colocar Marília em
tentação e Maurício em exasperação.
anda, caralho
Apesar de não possuir caderneta profissional de terapeuta
julgo que todos, numa aproximação imperfeita ao Mandamento do Senhor, temos a
obrigação de proporcionar ao próximo um mínimo de condições para que ele
extravase a sua raiva interior e que o faça da forma mais benigna para os que o
rodeiam. Este é o ponto, e é um ponto bonito, na minha maneira de ver.
Um dos locais de eleição para esse transvase de bílis é do
conhecimento de todos: o trânsito. Não irei discorrer sobre o tema em teoria,
ele já está tratado seja por especialistas, seja por curiosos, seja por amantes
da opinião livre em geral e da badalhoquice em particular.
A forma que escolhi para cumprir este mandamento na sua
versão terapêutica foi atrasar-me ligeiramente a arrancar ao sinal verde, proporcionando
assim ao condutor de trás momentos de verdadeiro êxtase de raiva e ódio sobre
mim expelidos de forma concentrada, mas sempre devidamente controlada e confinada no espaço.
A fórmula de escape terapeutico que tenho assistido com mais frequência e que me
parece de resultados mais imediatos é um «anda, caralho», dito apenas com um
ligeiro arregalar de olhos e um levantar das maçãs do rosto que muitas vezes
evidencia duas rugas laterais de belo efeito em caucasianas sem maqulhagem excessiva. Na maioria das
situações este movimento terapêutico atinge-se com um mero atraso-de-arranque
de 1,5 segundos mas já encontrei casos desesperados
de reacção aos 6 décimos de segundo.
Um segundo modelo de intervenção é aquele que tem associado
o formato de impropério simples: «foda-se, arranca!». Dado
o grande potencial de dinamização económica que tem associado, geralmente é
adequado a pessoas com uma intervenção cívica relevante e que se preocupam
realmente com o estado das contas nacionais, deficits e espirais recessivas. Por regra, esta fórmula terapêutica
deve vir acompanhada com aquele movimento de braços que numa primeira fase se
afastam em leque do volante para depois nele aterrarem com veemência recolocando-se em posição de ataque ao semáforo e ao carro da frente (o terapeuta - eu) .
Grandes oscilações de pescoço já não são necessariamente observadas nestas ocasiões, e como se
seguem arranques rápidos a terapia conclui-se sem efeitos secundários. Já
acompanhei pacientes que depois do arranque chegam mesmo a conseguir bufar duas
ou três vezes o que é altamente recomendável desde que não embacie.
Uma outra técnica terapêutica que também aconselho é a que
está associada a sinais de amarelo intermitente. Atrasar o arranque acima dos 2
segundos em bastantes destas situações consegue proporcionar ao nosso cliente do carro
de trás aquele movimento para trás com a cabeça e olhos no zénite e que, com jeitinho e paciência,
conseguimos que ainda esboce um «merda, mexe-te, merda». Se repararmos, este
impropério terapêutico é de enorme potencial pois não só permite a irritação
adicional de ter de dizer desenroladamente 3 émes seguidos, sendo que um deles é um verbo, e
ainda para mais é uma frase capicua, o que nalguns espíritos mais escrupulosos
adiciona bastante valor-de-exasperação.
É evidente que - e os leitores mais atentos e conhecedores
certamente já terão pensado neste reparo - nem sempre a terapia termina nem esgota com o
mero atraso de arranque seguido de impropério de ódio dirigido contra certos-incertos.
É preciso garantir que se segue um alívio e esse alívio tem de ser muitas vezes
concretizado com expressões em surdina como «não tens nada para fazer, cabrão»,
ou «é por causa destes cabrões que isto não anda para a frente», ou mesmo até um «país de conas é o que isto é» (as generalizações em certas sessões terapeuticas podem ser bastante apropriadas). E é nestes
momentos que o terapeuta que todos temos dentro de nós se deve sentir realizado.
Mais realizado que isto só mesmo hoje a seguir ao almoço quando uma miúda bem gira do pescoço cima, ali num semáforo às Amoreiras, depois de lhe ter atrasado um arranque em coisa de mais de 1,45 segundos, lhe consegui sacar um «fode-me assim outra vez, meu amor, fode», com sopradela de franja e tudo. São estas coisas gratificantes que nos ficam. Nem passei factura, que Deus me perdoe.
Mais realizado que isto só mesmo hoje a seguir ao almoço quando uma miúda bem gira do pescoço cima, ali num semáforo às Amoreiras, depois de lhe ter atrasado um arranque em coisa de mais de 1,45 segundos, lhe consegui sacar um «fode-me assim outra vez, meu amor, fode», com sopradela de franja e tudo. São estas coisas gratificantes que nos ficam. Nem passei factura, que Deus me perdoe.
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