Quando Simone Bolina escreveu A Túlipa Amarela vivia no
rescaldo de mais uma temporada afectiva desgastante com Raimundo Múrcia. Não
será a isso alheio o facto da principal personagem do romance se chamar
Raimundo, mas não deixará de ser estranho que este apareça como alguém que
estimula a adesão e até o carinho do leitor. E mais estranho isso se torna se
nos lembrarmos que durante o lançamento do livro se veio a saber que Raimundo
tinha um caso com Custódia Passos, que veio a falecer em circunstâncias
invulgares naquilo que se pensa ter sido um suicídio encenado. O Romance é
desde o seu início um tricotado literário em torno dalguém que se vai elevando
sobre a realidade e que fica a pairar puro e intocável numa nuvem de fontes e
letras, num verdadeiro misticismo tipográfico. Simone consegue resolver bem a
tentação utópica e mantém Raimundo sempre ligado à realidade com picarescos
relatos relacionados com a sua família, mas não consegue fugir à emergência
moralizante que percorre toda a trama. Sem o Bem e o Mal aquele romance não
existiria e o melhor que Simone consegue fazer é manter-se equidistante. O que
já não é pouco.
in 'Está Bem de Ver', crítica ao Romance de Simone Bolina A
Túlipa Amarela, publicado no agregador de Suplementos Culturais - Sigma, aquando
da sua 2ª edição pela Editora Mosca Morta.
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