Últimos Parágrafos


«Carlos desceu então as escadas, deu-se ainda ao cuidado de olhar para cima, pôs as mãos cuidadosamente nos bolsos e só depois de respirar quase piedosamente fundo saiu para a rua. Foi recebido por uma chuva cinematográfica, mas sem táxi a parar à porta, pelo que teve de esperar dois literariamente infindáveis minutos. Teria sido um crime passional, uma precipitação, uma negligência, o resultado duma indiferença moral, não sabia. Os advogados que decidissem. Para ele chegava-lhe uma consciência pesada, afinal de contas nunca se dera bem com a alma limpa. Só o crime pondera, disse por fim ao taxista, e é para o Beato, mas não vá pelo rio, por favor.»

in Ruído e Sombra, de Flávio Cossaco, edições Fuligem, 2013

Sem comentários: