Alexandre Felipe Caramelo era o quarto filho do comerciante
de retalho de Setúbal, Felipe Paulo Caramelo, que ficou célebre no seu tempo, e
ainda hoje recordado, por causa da sua morte trágica, ocorrida há precisamente
15 anos, degolado por Lurdes Felinto, e de que falarei mais tarde. Agora apenas
digo que este «comerciante de retalho» era um sujeito estranho, mas desses que
se encontram com frequência, um tipo de homem que não só não sabe fazer nada,
como é depravado, mas que trata dos seus interesses com uma perfeição de
mestre, no fundo a sua única e real qualidade. Felipe Paulo, por exemplo,
começou do nada, era um comerciante de pouca importância, fazia-se convidado
para as mais diversos festas, introduzindo-se assim em ambientes que
normalmente lhe estariam vedados, mas acabou deixando uma fortuna ainda hoje difícil
de avaliar. Era também aquilo que hoje se chama um homem excêntrico mas,
repito, não o era por estupidez, era-o essencialmente por inaptidão, e ainda
por cima dum género especial, de inaptidão nacional, daquele jeito único que
temos para não saber fazer nadinha de nada.
in Os Irmãos com Olho de Vidro, de Viviane Lopes, edições Fuligem, 2013
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