A minha Pátria é a míngua portuguesa


Depois de ultrapassados com sucesso os stress tests, o governo português encheu o peito de ar e disse que queria também passar nos crash tests. Como seria previsível esborrachámo-nos contra quase todo o tipo de paredes e apenas alcançámos os mínimos contra um pladur produzido em marrocos aproveitando restos de pentelhos de camelo. Face às evidências e à indigência expectável, e em vez de estarmos a vender o país às pinguinhas o governo desistiu da diplomacia económica e deu um mandato de venda de partes do país a Severiano Fernandes, o conhecido Rei dos Pastéis e das Sandes. Tendo feito fortuna a fatiar aglomerados de gordura de porco e a enfiá-los entre duas glamourosas pranchas de cereal fermentado, Severiano convenceu o governo que conseguiria enchouriçar também bocados dos país e vendê-los como lombo fumado de civilização ocidental. A sua primeira operação foi a venda da RENA (rede de esgotos nacional) a um grupo paquistanês com interesses em toda e qualquer merda e que tinham desenvolvido um método revolucionário de reciclagem de preservativos com embalagens de leite condensado produzindo estores e material para telha refractária destinada a bairros sociais no punjab. Esta receita extraordinária não só permitiu uma melhoria na auto-estima nacional, pois cada português sabia agora que cada vez que se sentava a meditar estava também a contribuir para a melhoria das condições dos monhés, como facilitou atestar os depósitos de todos os secretários de estado para um mês e duas viagens ida e volta a Paris para aquela moça de apelido medeiros (sem érre, atenção). Depois deste sucesso sem precedentes Sir Severiano (fora condecorado pela rainha de Inglaterra depois da sua invenção do courato embebido em earl grey) decidiu fazer a colocação no mercado internacional da RENAMA (rede nacional de marquises) o que criou um verdadeiro reboliço nos mercados. A marquise portuguesa tinha alcançado o estatuto de Património Imbecil da Humanidade e estava entre os bens mais cobiçados nas economias emergentes que estavam impedidos de usá-las por força duma patente inteligentemente registada por Severiano quando toda a gente estava distraída com o que ficou conhecido como a grande bolha do pastel de nata, o verdadeiro bolbo de túlipa do séc. XXI. Não foi por isso de estranhar que 40% da RENAMA tivesse sido adquirida pela sociedade gestora do Canal do Panamá, que hoje podemos observar revestido a belos perfis de alumínio com vidro martelado, permitindo assim que ninguém se molhe nos barcos ao passar e provocando de caminho a 2ª ou 3ª ou 4º crise do Suez que agora apenas tem possibilidade de se tapar com lonas ou toldos dos cafés segafredo. Impulsionado de venda em venda, Herr Severiano (entretanto nomeado embaixador mundial do leitão da bairrada, que se tinha passado a chamar Leitão de Sttutgart e que se tornou o símbolo duma 2ª marca da mercedes para os países em reestruturação de dívida) abalançou-se à sua operação mais arrojada: a venda da RECONUDA (Rede Nacional das Consoantes Mudas). Com particular olho para o negócio, Severiano antecipou que iria dar-se um excesso de consoantes no mercado nacional e que poderiam perfeitamente interessar a línguas que estivessem a sentir a sua falta. Montada toda a operação financeira, foram colocados 5 biliões de cês no mercado do mandarim, e 400 milhões de tês no mercado daquela algaraviada dos emirados árabes. Tal foi o sucesso que hoje inclusivamente o governo alemão está ultimar um novo acordo ortográfico e a subcontratar Severiano para a colocação de 3 triliões de érres em todo o mercado asiático, no que consistirá na maior colocação de consoantes de que há memória desde que cleópatra abriu as suas pernas e vogais a marco antónio. Severiano Fernandes deixou definitivamente o seu nome gravado na história económica portuguesa e mesmo europeia quando logrou criar a RENAROTA, a rede nacional de rotundas, e, numa manobra visionária, colocou-a em regime de franchise pelas várias economias em crescimento e que estavam a ponto de nos ultrapassar, que assim se viram obrigadas a marcar passo, rodopiando entre as várias rotundas com esculturas de artistas populares pagas pelos respectivos orçamentos municipais. Portugal hoje mantém-se saudável, no pelotão da frente, com as varandas todas abertas ao sol, com a sua merda criteriosamente escoada e sem uma única consoante por rentabilizar.

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