De todas as tentações heréticas les plus délicieux são as da
família do panteísmo. Apesar de já exploradas até à exaustão na história da
imaginação e digestão religiosa mostram sempre uma luminosidade tal que dão um
ânimo revitalizante a qualquer crente com um certo afã de heterodoxias
ortodoxas como eu. Noutro dia, a Cristina dos ex dias felizes tirou da sua arca
uma preciosidade praticamente graálica: «(...) vi-me obrigada a aceitar a
existência em mim de um sentimento religioso (sim, o sentimento religioso é
o mais inconfessável de todos). (...) ao procurar situar esse sentimento, e
depois de muito esforço, percebi que ele não pairava no espírito como coisa
abstracta mas consiste na harmonia silenciosa das substâncias químicas que
compõem o meu corpo — na matéria, portanto». Ora esta espinosada de 3ª geração
é uma lufada de ar fresco na apatia religiosa dos tempos que correm e
leva-me a confessar também que já um par de vezes me pareceu sentir Deus a
subir-me pela espinha acima que nem um foguete de Xenônio, facto e convicção
que até hoje tinha reprimido, numa manifestação, reconheço, de vergonhosa
infidelidade ao mandato apostólico que transporta qualquer católico. Esse
equilíbrio da matéria interior, apesar da aparência de conter um certo
biologismo místico, é inegavelmente um bom principio para encontrar Deus,
quando mais não seja fazendo da Tabela Periódica uma espécie de private catechism quando não mesmo, nos dias mais felizes, a portable summa theologica.
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3 comentários:
:D
seria um tema bom de conversa para os reformados que andam nos autocarros a quererem fazer valer alto os seus variados achaques (se eles fossem minimicamente monty pythonianos, claro, senão não)
a química dum reformado achacado será praticamente uma relíquia, sim :)
Lá pelo meu blogue estou farto de defender a mesma tese.
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