the sense of a pending

Estamos rodeados de dívidas eternas que apenas podemos gerir: o nosso sócrates (tão nosso património como o fado) deu um exemplo que originou uma colecção outono-inverno de vestes rasgadas, mas tem obviamente toda a razão. À semelhança da dívida que um filho tem para com os pais, dum aluno com um professor, tal como o que se passa num amor não correspondido, ou com uma vacina dada no momento certo, já para não falar do maravilhoso mundo do religioso, toda a experiência humana está cheia de dívidas eternas que apenas administramos o melhor que a nossa precaridade galáctico-filosofica nos permite nesta economia mística de meios.
[Aliás, a dívida perpétua, saberão muitos, é um instrumento absolutamente normal, equilibrado, e que se pode e deve aplicar a situações às quais se adeqúe, como num banal empréstimo à habitação (os filhos e os netos e os bisnetos que vão pagando os juros pois podem lá continuar a viver) e é um instrumento financeiro recorrente. A dívida resulta dum excedente e se falarmos de um excedente perpétuo com uma boa remuneração já não escandalizaria tanto]. Sócrates poderá até ter na manga um novo choque, desta feita, o filosófico mas, uns porque sabem que ele tem razão apenas não fica bem dar-lha, outros porque nem sabem bem o que dizer tal a fragilidade em que estão enfiados, todos em conjunto reflectem na perfeição o estado da arte: a verdade está pendente. Quando menos se sabe o que a eternidade significa mais se deve apostar nela.

Sem comentários: