Comam bolos

O lirismo é a única fórmula com provas dadas para tratar o tema das relações amorosas. Face a este êxito num ambiente tão hostil como o do amor julgo que é no mínimo um desperdício senão mesmo uma negligência grosseira não tentar explorar a fonte lírica para abordar seriamente a relação política, querendo eu dizer com isto a relação entre o soit disant cidadão e o seu governante, tenha este último saído de eleições, da tomada pela força, ou até mesmo caído do céu. O lirismo político que geralmente vem associado na linguagem corrente à ingenuidade, não deverá de nenhuma forma confundir-se com este conceito pois tal seria, tanto na sua natureza como no seu conteúdo, algo de bastante nefasto. O lirismo político, poderíamos enunciá-lo (e vou mesmo) da seguinte forma: o governante quer sempre do bom e do melhor para os seus governados e este últimos têm de fazer um esforço por compreender os primeiros no caso destes não compreenderem os segundos. Se a mensagem cristã manda dar a outra face, a mensagem lírica manda dar a outra nádega. Neste momento poder-se-ia pensar que estávamos perante uma teoria de pendor jocoso, mas desenganem-se, pois nem sempre onde está uma metáfora anatómica sub-lombar está uma brincadeira de mau gosto, e é precisamente o que se passa na teoria que arrolámos para este texto.

A relação política tem em comum com a relação amorosa o seu equívoco principal que é o mecanismo da incompreensão. Geralmente a relação amorosa só funciona quando uma das partes assume um qualquer tipo de submissão (que nalguns casos se pode chamar de inferioridade, noutros descriminação, noutros apenas come-e-cala-te-ismo), sendo que esta submissão assumirá contornos dos mais diversos, desde os mais simples como: pronto tu escolhes o que jantamos às terças, até aos mais sofisticados como: tudo menos gostares mais das minhas mamas do que dos meus sentimentos. Ou seja, o sucesso radica em compreender onde está a pedra angular do outro, saber qual é aquele pelinho que ao ser arrancado deixamos-lhe toda a careca à mostra. Na política trata-se do mesmo. O governante é um ser muito sensível, gosta de saber que é amado, gosta de saber que quando nos doem as articulações dos joelhos nós percebemos que é para o nosso bem e, regra geral, gosta de ser retribuído , gratificado, em resumo: compreendido. A relação política deve assim ser libertada, tal como a relação amorosa, de todos os empecilhos próprios das relações causais (ou ditas científicas), o que no fundo quer dizer que a exaltação do governante é um elemento essencial do seu sucesso e do sucesso da relação em geral. Por isso, devem ser urgentemente recuperados o encómio e o louvor como formas privilegiadas de relacionamento com o poder, abandonando o discurso irónico e até sarcástico, e muito menos o crítico, que no fundo só provocam inevitavelmente o progressivo afastamento entre governantes e governados, potenciando discórdia e, no limite, muita tristeza. Tudo o que fuja disto, já se sabe, dá no que dá.

1 comentário:

Anónimo disse...

Recebido via e-mail:

«O GOVERNO É IGUAL À CAMISA DE VÉNUS»

A explicação:

A camisa de Vénus permite inflação, impede produção, destrói a próxima geração, protege um bando de caralhos e ainda transmite um sentimento de segurança... enquanto na verdade, alguém está fodendo alguém!!!

;)