L'homme a inventé le pouvoir des choses absentes (*)

Pacheco Pereira está quase a conseguir passar aquele cabo que separa os tipos chatos e irritantes para o patamar das coisas fofinhas. Ainda passará intermitentemente pela tormenta das marés da excentricidade, arrastará sempre a sua flana de iluminado rezingão, alimentar-se-á do sistema e doutros ecteteras avulsos, mas acabará por flutuar pela casa da branca de neve de forma bastante decente, dando-nos até uma ou outra maçã de venenos subliminares para trincar. Como é ténue a fronteira entre a indiferença e a imunização o veneno deve ser bebido às golfadas.

«os dias de hoje em que metade do mundo diz-nos que mesmo que façamos tudo o que devemos fazer ficamos na mesma situação do que não fazendo nada e a outra metade diz-nos que se fizermos tudo o que temos a fazer, talvez possamos fazer outra coisa, cuja não se sabe bem qual é»

Foi sempre assim. Será sempre assim. E, geralmente, quem não está bem não se muda, arrasta-se; os mais activos, claro, os outros deixam-se arrastar. A caminho da ausência.


(*) citação de Paul Valéry, também encontrável no Abrupto.

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