Troika de MOU's (3/3)

O pior serviço que a demagogia politica prestou ao desenvolvimento humano foi a introdução abusiva e banalizadora na agenda retórica corrente do maravilhoso mecanismo da vitimização. Criar vítimas foi desde que há registos uma actividade absolutamente fundamental no estabelecimento do equilíbrio entre o homem e o que o rodeia, e sempre foi a forma mais digna deste se relacionar com a adversidade, com a imprevisibilidade e a ininteligibilidade do mundo que são, registe-se, as suas características principais. Ao contrário das suas outras companheiras de troika, a vitimização não vive apenas de prerrogativas da mente e exige competências, digamos, técnicas ou mesmo artísticas. Vitimizar não é apenas um mecanismo para chamar a atenção, a vitimização é o acto mais perfeito da mitificação humana.  A vitima é o mito mais completo. Uma generalização bem feita mesmo seguida da criação duma excepção cirúrgica, se não desencadear o processo de criação duma vítima, devidamente chorada, comiserada e sacrificada, será sempre um processo incompleto. Mas a verdadeira vítima nunca é o resultado dum expediente de chantagem emocional, isso é uma vítima-peluche, a vítima-mito é uma verdadeira categoria da mente que a deixa irredutivelmente condicionada, e lhe permite concentrar todas as suas forças, que geralmente correm o risco de se dispersar nos denominados 'os lados bons da vida', verdadeiros hinos ao perfil burlesco da criação. Quando puderam façam este exercício: peguem num falhanço banal, criem uma regra simples em torno dele, excluam-se por qualquer razão prosaica, guardem em ambiente húmido, e quando começarem a aparecer os primeiros pontos de bolor digam para convosco: «não fui eu o escolhido». Por cima dum subentendido há sempre um entendido.

7 comentários:

Anónimo disse...

Sabe o que me fode? Quer saber o que realmente me fode? Mas quer mesmo, mesmo, mesmo saber? É que não tenho uma varinha mágica. Não tenho nem cheta para a comprar nem pernas para a gamar! É fodido não lhe parece? Enquanto não tiver cheta para a comprar ou pernas para a gamar vou acumulamdo post it en la nebera para quando tiver cheta para a comprar ou pernas para a gamar experimentar as suas, certamente, suculentas reeitas. Darei notícias, claro. Ou quando tiver cheta para a comprar ou pernas para a gamar. Até lá ... É FODIDO!

Anónimo disse...

Ora aqui está um excelente, e tão simples quanto óbvio, conceito: a "vítima-peluche". Como diria um especialista da 'espécie', por estes dias muito visível pelas ruas do país, "aqueles que julgam" que isso não existe deveriam experimentar-lhe os efeitos. Inesquecíveis ;)

C.

aj disse...

muitas vezes o que distingue a vitima-peluche da vitima-mito é apenas a fibra do recheio. O mito usa sempre fibra siliconizada.

Anónimo disse...

Acaso poder-me-iam elucidar sobre o conceito 'vítima de peluche'? Eu tenho algumas ideias mas muito curiosa de ouvir a Vossa. Pode ser?

aj disse...

simplificando, a vitima-peluche é uma espécie de calimero mas em vez da casquinha de ovo tem um gorrozinho de feltro.

blanche disse...

;) Boa síntese! ahahahah

aj disse...

humm, chamarem-me sintético é um luxo! :)