Serve o presente para avisar os mais distraídos que no próximo Sábado dar-se-á a maior lua cheia dos últimos 20 anos

O inverno está quase a acabar e antes de deixar que o pólen me obstrua os canais que dão acesso à zona bulbosa do tino, deixo hoje o dicionário não ilustrado abordar um tema que é absolutamente essencial em dias de dúvida e incerteza, e nada melhor do que fazê-lo enquanto os reactores ainda estão entre o quente e o frio. Quais são então (apenas um grupo seleccionado) os qualificativos que um homem pode receber duma mulher como críticas (ou até insultos) mas que serão sempre recebidos como um certo perfume elogioso. Se alguma mulher por mero, acidental inclusive, acaso aqui passar, guarde para si este segredo: não os use se quiser pôr um homem a milhas.


Insuportável - nenhum homem gosta de ser apenas suportável, e se a alternativa é não o suportarem, ele tem sempre a capacidade de se iludir como sendo um problema de demasiada densidade da sua personalidade, ou mesmo, para aqueles mais dados aos conceitos não palpáveis, algo metafísico que se deva à enorme intensidade do seu ser.

Irritante - Chega a ser confundido com um epíteto carinhoso e há muito irritante verdadeiro que assim se tem mantido graças à ambivalência intrínseca do termo. A irritação é um estado muito próximo da felicidade e nunca deve ser trazido para o mundo delicado, mas exigente, da retórica recriminativa.

Porco - Com a aparência de insulto radical, muitas vezes revela-se apenas um insulto de transição e até já foram observados casos de pocilga com dossel.

Insensível - este epíteto, da categoria dos insultos de fase preliminar, é muitas vezes absorvido como um convite à ternura, e em várias observações antropológicas serviu de dique no processo de repúdio, deixando-o novamente a boiar. Não confundir com o desgastado 'já não sinto nada por ti' que basicamente apenas pertence à categoria menor dos desabafos-de-amor.

Crápula - É uma espécie de insulto-com-estudos, raramente utilizado em movimentações tácticas correntes, mas que traz consigo toda a beleza que paradoxalmente o mal incorpora. Geralmente é assimilado como um hino à sofisticação que está no âmago de qualquer bom cabrão.

Inqualificável - Trata-se duma designação da categoria dos híbridos e que geralmente deixa no ar excessiva liberdade de escolha. Ainda para mais, o homem ao assumir que está a ser chamado a qualificar-se não raras vezes o faz sem se tornar mais indefinido e viscoso ainda. A mulher deve trazer sempre consigo a caixinha onde guardou as primeiras impressões.

Besta - De aparência algo cruel, este epíteto foi ganhando no coração do homem moderno um espaço de consideração e mesmo estima. O homem ao saber-se e sentir-se a besta de alguém tudo fará para carregar esse fardo com mais ligeireza, poupando a sua carga de apeadeiros sem condições mínimas e dando-lhe um balanço de albarda recheado de cuchi-cuchi's que muitas vezes conduz ao anestesiamento de coxas.

Farsante - Geralmente é uma atribuição que pretende atacar um dos constituintes básicos do núcleo moral da condição masculina, mas que acaba por trazer à superfície o componente lúdico que transforma a virilidade no mais potente afrodisíaco. Qualquer artista da braguilha sabe gerir a galáxia de diferenças que pode separar um 'és insignificante' dum 'já não significas nada para mim'.

Lamentável - Comunicar que um homem é objecto de pena e lamentação, quando tudo poderia indicar que se tratasse duma estocada irremediável, quase sempre se revela um tiro no pé, pois qualquer um sonha em estar deitado nos braços duma pietá, seja qual for a cruz que lá o tenha conduzido.

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