Almoços Grátis. série 2 [2]

Estava um dia nublado, feio, mas não chegava a ser esquisito. À entrada do restaurante estava um grupo de raparigas que festejava um aniversário. Gosto de entradas confusas porque me sinto mais protegido. Ela estava ao balcão, na conversa com um cliente habitual. Fico irritado quando ela fala com clientes habituais. Os ocasionais não me perturbam, é a diferença entre sedução e negócio. É a segunda vez que cá venho depois deste tempo todo e ela ainda não olhou para mim em condições. De represália não pedi o prato do dia. Pedi uma omolete de queijo, estava tão irritado que nem me lembrei que detesto omolete de queijo.

Estava um dia péssimo, permite que te contrarie. Uma luz fosca, um ventinho irritante e gelado, o céu infeliz na premência de chuviscos ríspidos e incertos. Como o teu olhar. Como a tua rigidez. Só mesmo tu conseguirias provocar-me ira e riso com essa perversão de comparar 'sedução' e 'negócio'. Aqueles a quem chamas os 'clientes habituais' foram o meu écran natural, tal como tu preciso de me sentir protegida. Tal como tu, de ti. Fizeste bem pedir omelete de queijo, é relativamente inócua em sabor e textura. A de camarões estava a sair demasiado aguada. Não a apreciarias, de todo.

 L.

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