Voltei lá dois anos depois. Quando entrei ela não me viu. Estava mais magra, tinha o cabelo mais curto, ao principio não deu para ver muito mais. Sentei-me com alguma ansiedade, felizmente ia almoçar com dois fornecedores, não precisava de grande imaginação para alimentar uma conversa e o prato do dia era jardineira. Ainda me lembro que quando o prato do dia era jardineira ela usava umas azuis claras e brincava com isso, punha aquela ar de gaiata envergonhada que reduz qualquer homem a papa cerelac sem precisar de misturar muita água; porra, passaram dois anos, quantas jardineiras perdi em dois anos? Como recuperar aquilo que não se sabe que se perdeu?
Vi-te chegar, sim. Ao contrário de mim, estavas mais 'amplo' mas mantinhas o mesmo olhar de quase-tristeza-quase-doçura irreverente e tímida com que me olhaste da primeira vez que te servi um ice-tea green. Tínhamos ambos mais cabelos brancos, os meus agora visíveis despedida que foi a colaboração de décadas que mantive com a L'Oreal. Uma jardineira é sempre uma jardineira, seja de jeans seja de ervilhas. Não sou capaz de calcular quantas jardineiras perdeste, sou capaz de te dizer que hoje conheço melhor os ingredientes e sei que não se recupera o que se perdeu. Mas qualquer boa cozinheira te dirá que uma jardineira, por ser um estufado delicado, ganha espessura e sabor com o tempo. Afinal quem quer uma jardineira requentada se a pode hoje pedir revista e actualizada, com receita melhorada?
L.
1 comentário:
Já sinto saudades deles!
E
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