Nascera numa desova perto de Peniche, cedo fora bem recebida no cardume e a sua primeira excursão de treino foi tão bem sucedida, que logo passou a responsável pela carreira de Leixões, sempre na bisga e sem encontrões. A sua melhor amiga na altura era a Ritinha, uma petinga de se lhe tirar o chapéu mas que, sem sorte nem arte, acabou entalada nas guelras dum espadarte enjoado de carapau. Desde a mais tenra idade Julinha se destacou pela forma como se esquivava aos predadores da costa, entrincheirados nas águas turvas, e dizia-se que a sua barbatana dorsal iria deixar muito arenque de boca aberta e espinha dobrada; seria safada. O seu sonho era espraiar-se numa enlatada gourmet, banhada de azeite virgem, tratada pelas mãos dum conserveiro experiente e cortês que zelasse dos seus belos omegas3 destinados a proteger corações com ânsias de vasculação. Namorou com Nemo, inspirou contos para crianças de escritores com excesso de imaginação, entrou em dois fados castiços, disfarçou-se de moby dick numa festa de carnaval das cavalas de Viana do Castelo, entrou numa receita com marmelo, passou uma noite ao luar dentro dum búzio oco, e foi madrinha de casamento de um choco, que se imortalizaria em tinta dum quadro de Soulages. Só morre o que mexe, mas conseguiu fugir à tomatada e ao escabeche, aos restaurantes chamados Belmares, à brasa, e aos santos populares. Fingiu-se fina, fingiu-se grossa, mas acabaria estaladiça e untuosa. Fritinha. Servida num prato de entradas juntamente com Luisinha, Miriam e Marisa, concorrendo com um pires de linguiça; boas entradas.
bailoutame mucho
1. política
Já há uns tempos o nosso Sócrates (sócrates deverá ascender à categoria de 'político de estimação', uma espécie de tamagoshi nacional) disse - estará o vasto auditório recordado, certamente - que ainda estaria para nascer quem reduzisse melhor o déficit do que ele. Há poucos dias Cavaco informou-nos que ainda teríamos (não sei se todos ou se só alguém em especial) de nascer duas vezes para ser tão honestos como ele. Enquanto aguardamos pela proposta de renascentista de passos coelho, confirmamos agora que Portugal-nação pode vir a encontrar a sua vocação como barriga de aluguer para políticos sérios e poupados desde que - um pormenor importante - devidamente fecundada no local próprio (sodomizarem-nos não resulta, já deviam saber). O recuo na primeira leva de 'cheques bebé' ficou assim explicado, só terá direito a essa verba a pessoa que nascer duas vezes, ou , no mínimo, que possa garantir formalmente estar ainda para nascer outra vez. Todo o português que nasça apenas uma vez está destinado à desonestidade e ao esbanjamento. Aconselha-se, por isso, a classe profissional das parteiras a darem o nó no cordão com muito jeitinho porque a partir de agora vai ser necessário desatar e atar outra vez. Avisa-se também a classe obstetrícia e ginecológica em geral que todo e qualquer rebentamento de águas deve ser cuidadosamente acompanhado pois a reserva estratégica de liquido amniótico tem de ser acautelada, a fim de secarmos em definitivo a fonte de perdulários e aldrabões que tem sido a nossa estirpe.
2. bola
Cumpre-me informar que, naquilo que é realmente importante, este ano trouxe mais do mesmo: nem uma grosa incandescente pelo cu acima poria os cabrões dos lagartos a jogar decentemente à bola. Gostaria de saber o que pode fazer um pai para manter os seus filhos fiéis a um clube que os faz passar vergonhas com os colegas, e que inclusivamente os pode levar a desconfiar da capacidade paterna para lhes proporcionar uma vida com mínimos de confiança, serenidade e algumas farripas de felicidade, quando não mesmo desconfiar da sanidade mental do progenitor. Sim, educar como, nestas condições de achincalhamento moral!? Como ajudar a destrinçar o certo do errado, o bem do mal, o amargo do doce, a barriga do rochemback da coxa da claudia vieira, quando aparentemente lhes abrimos o caminho para se enfiarem irracionalmente no maravilhoso mundo do frangalho e da derrota. Só um pai Sportinguista pode realmente perceber o alcance de uma crise.
3. gajas
Uma das conclusões mais dolorosas que temos de tirar para este ano é que não deu ao plasma nenhuma nova sex symbol de que o país se possa orgulhar e inclusivamente ainda deixámos fugir a orsi feher para o atletico de madrid. Como sabemos o prazo de validade da sex symbol portuguesa cifra-se nos 18 meses (está entre o queijo flamengo e o miolo de camarão) e se não aparecer nada de novo poderemos ter de voltar a descongelar uma Diana Chaves ou parecido. O desfoque provocado pelos planos tecnológicos e pela pressão no rating da república permitiu inclusive que a nova namorada do ronaldo se viesse imiscuir num território que deveria ser um reduto exclusivo da maminha e do rabo nacional. Se há coisa que esse uiquiliques devia pôr a mão era nisto: português que seja apanhado a babar-se perante febra de importação não merece perdão.
Etiquetas:
La vie au Tanga
Para desenjoarem das listinhas de livros
1. pmés do ano
Grupo GiSiFex, composto por:
Giralda & Gomez, lda - empresa do sector de materiais de construção, líder no ramo do soalho flutuante no distrito de Oliveira do Hospital, importador exclusivo da marca croata de rodapés Pisex, 5 vendedores a tempo inteiro, 2 a tempo parcial, 3 engenheiros de ambiente estagiários no departamento do pós-venda, frota com 3 renault kangoo e uma Transit em leasing. Gestão séria e familiar, apesar da secretária Belinha ter dormido duas vezes com o chefe da contabilidade. Dois apartamentos para venda em S. Gião recebidos como dação de pagamento dum construtor de Arganil. Promoção fracassada de diluentes suecos 'Herlander' no Natal. Telefone e electricidade cortados na Páscoa, subsídios de férias pagos em espécie com torneiras de duche e azulejos de imitação de viúva Lamego.
Silicabrase, sa - empresa do sector dos abrasivos, pequena instalação fabril em S. João da Madeira e escritórios em Águeda. Forte penetração no mercado espanhol e russo. Director comercial fluente em línguas e patente exclusiva para a península do processo de fabrico Holandês 'Radromeer' célebre pela campanha fracassada 'lixa mas não fode'. Venda apenas a clientes industriais ou grandes distribuidores com armazéns próprios. Dois lay-offs de 15 dias em 2008, 1 contra-ordenação da inspecção de trabalho em 2009 por excesso de horas extra de três trabalhadoras moldavas e duas coimas por descarga ilegal de 5 litros de aguarás chinesa em 2010. Processo Cível movido pela empresa de papel higiénico 'Sófete' que reclamou uso indevido da tarjeta 'lisinho & limpinho' nas embalagens de lixa nª 3 da campanha de bricolage dos supermercados Pimenta da Azambuja.
Fedintex, lda - empresa possuidora da rede do master franchise das perfurarias Lulu & Sandra com forte implantação em centros comerciais no concelho de Loures. Lojas com 200 a 500 m2, venda personalizada de decoração de beiços e refrigeração de axilas. Representação exclusiva para portugal da marca mexicana de batons 'Bijoulini', da marca uruguaia de escovas 'Desfrizola' e da marca de implantes mamários do suriname 'Nigella'. Primeiros problemas técnicos com um lote de verniz cor de macadamia que apresentava fissuras ao fim de 3 dias, respectiva devolução sem reembolso e duas livranças por pagar. Uma grande promoção de stick desodorizante no S. Martinho para escoamento de stocks e realização de liquidez acabou por ser um fracasso e foram vendidos ao desbarato para uma manifestação de depositantes do BPP do distrito de Silves.
2. corninhos do ano
Deolinda Bastos - Chefe de repositoras da cadeia de minimercados Pimenta da Azambuja. Namoro sério durante dois anos com Julio Raposeira, serralheiro efectivo nas oficinas de reparação auto da Hyundai da Alhandra. Primeira experiência sexual conjunta num fim de semana em Oliveira do Bairro e amor oficialmente declarado em jantar a dois (se descontarmos uma tia avó de Julio com diabetes e surda que nem um calhau) no restaurante Luz de Benfica-grelhados no carvão. Juras de fidelidade eterna num domingo gordo em Torres Vedras e primeira menstruação com atraso nos santos populares; falso alarme, aparentemente efeito secundário duns ovos escalfados comidos em casa da mãe de Deolinda, senhora de recursos, e dona duma pensão (de bem) em Sacavém. Luis Gonzaga encontrava-se na Azambuja perdido quando entrou no minimercado Pimenta para comprar um pacote de filipinos. Deolinda ofereceu-lhe umas shortcake embaladas a vácuo que rapidamente se transformaram em shortqueca atrás dumas paletes de diospiros por influência do paleio insinuante e sedutor de Gonzaga, vendedor de apartamentos num empreendimento de luxo em Souselas que utilizava materiais fornecidos por Giralda & Gomez (vide supra)
3. Ministro desconhecido do ano
Cecília Bordalo - responsável pelo ministério do Imaginário Nacional. Destacam-se duas entrevistas a Mario Crespo (uma a meias com um cozinheiro da Marinha Mercante), uma capa no Jornal Voz de Viseu aquando do aniversário da 1ª comunhão de Viriato e uma jantar de beneficência com Soraia Chaves a favor das vitimas dos Descobrimentos. Responsável pela campanha de lançamento da marca 'PH' ('Pobres mas Honestos') revelou-se influente no executivo quando fez obrigar os seus colegas ministros a usarem ténis Sanjo durante as visitas de Estado. Durante a assinatura do Tratado de Lisboa foi responsável pelos salgadinhos e pela tradução para mirandês. A partir de Setembro acumulou com as funções do secretário de estado que entretanto teve de sair para ocupar o seu lugar de administrador dos jardins botânicos.
4. Cobrador de Impostos do ano
Rui Silas - funcionário da secção de IRS da 4ª repartição de finanças da Gafanha da Nazaré. Responsável pelo record de 200 penhoras de mobílias de sala de jantar, 153 edredons de penas e 89 botas de cano alto. Candidato ao prémio 'Colecta d'Oiro' pelos serviços prestados na detecção de falhas em facturas de farmácias de benuron e adalgur.
O seu trabalho de proposta do modelo de alargamento do conceito de mais valias realizadas mereceu uma menção honrosa no concurso europeu do 'Saque & Siga' e pela terceira vez consecutiva foi eleito 'Teixeira do ano' pela sua ideia do 'arredonda fiscal' em que cada liquidação de IRS seria sempre arredondada para a dezena de euros superior sob pena do pagamento ter de ser feito com notas de 5 euros terminadas em 11.
5. Beneficente do Ano
Julio Vargas - sócio nº 234 da secção sul da associação 'Amigos do Bem Fazer', sócio nº 327 da secção de Odivelas da 'Charité2000' e chefe da secção de arroz carolino em pacote do banco alimentar da Arruda dos Vinhos. Responsável pelo protocolo com as lojas de pronto a vestir Repolho & Bilro, que dão um desconto de 25% em malhas a todos os benfeitores da associação 'Repele Tristezas' com sede no distrito de Portalegre. Grande impulsionador da campanha 'Alcatra por Amor' que conseguiu reunir 200 mil croquetes numa sessão de cozinha pública na ponte da chamusca. Em Julho ajudou a lançar o cartão 'mastercardo' que permite a acumulação de pontos nas distribuições de sopa quente, e que permite a cada 500 pontos uma entrada no balneário do benfica e uma sandes de paio autografada pelo Oscar Cardoso.
6. Paneleiro do Ano
Vicente Catita - descobriu a sua orientação sexual quando se apaixonou pelo tubo de escape dum Seat Leon no festival de tunning da Cova da Piedade. Primeiras calças justas compradas nos saldos da Minimo Dutti do cascais shopping, e primeiro beijo na boca a Xavier Pontiac, ilusionista e empregado do bar no centro cultural e recreativo de Trajouce. Revelada a sua opção sexual no forum da tsf sob o nome de Silvio Bexiga e primeira manifestação pública num festival de sócias de mickael jackson em Aveiras de Cima. Portador do célebre cartaz 'pelo direito à diferença e à igualdade e a tudo o que tenho direito' nas manifestações de apoio à lei do acasalamento jurídico de homosexuais. Primeira dúvida-de-orientação quando levou a mijar à rua a cadela Sininho da sua vizinha do 4ª esquerdo, dona Dulce Firmino. Casamento com Ivo Sampaio (ex Irene Sampaio) em Setembro, alianças compradas no leilão da casa de penhores 'Reluzia' em Elvas. Eleitos casal do ano pela revista 'Glamure', distribuída nas perfumarias Lulu & Sandra (vide supra) e patrocinada pela rede de oculistas 'Utóptica'.
Etiquetas:
La vie au Tanga
e para quando uma lista de anjos do ano?
Como sabemos Deus Nosso Senhor tem montado e em funcionamento um esquema tipo wikileaks desde tempos imemoriais, totalmente pensado para que, quando se realizar o Juizo Final, o lavar da roupa suja se verifique de forma ordeira, fundamentada e sem percalços relacionados com uma deficiente interpretação dos factos, ou como se diz no cânone moral, dos pensamentos, palavras, actos e omissões.
O primeiro encarregado-chefe desse departamento foi o Anjo Wilfredo Kirquegardo Leandro Kustódio que se notabilizara desde muito cedo por ter conseguido manobrar e controlar uma rebelião de bactérias no ano seguinte ao big bang. No seu curriculo contavam igualmente a erradicação definitiva do anjo AlaricoTinto por ter andado a bufar coisas maradas a um monhé chamado Maomet, fazendo-se passar pelo seu primo anjo Gabriel, e uns anos mais tarde conseguiu reunir as provas conclusivas para enfiar na solitária o anjo Hilário da Purificação que se tinha disfarçado de indulgência plenária num sonho daquele monge nervoso de seu nome Lutero. Tudo teria corrido bem ao anjo wikileaks não fosse ter sido apanhado a traficar aparições com uma virgem mártir da Alsácia que fez queixa dele por promessas não cumpridas relativas a milagres com princesas austríacas frígidas.
O Altísssimo teve então de fazer uma reestruturação deste serviço e, ao abrigo duma legislação de flexisegurança, colocou o Anjo Joaquim Roçou na chefia, acumulando com o cargo de treinador da selecção de danças de salão. Joaquim Roçou era um anjo com bastante iniciativa e ao assumir posse deu logo nas vistas, quando se fez disfarçar de bom selvagem e acabou por provocar a Revolução Francesa.
Mas Roçou revelou-se um anjo ansioso e, uns tempos depois da viragem para o século vinte, considerando que o mundo estava calmo, e a efervescência revolucionária se confinara ao panfleto e às bebidas generosas, pediu transferência para um departamento que estava a dar o seus primeiros passos (uma cena interna do Paraíso relacionada com os crimes de asa branca envolvendo alguns anjos famosos) obrigando o Criador a mais uma alteração tendo escolhido para o cargo o Ancanjo Juliano Assanhado, um rapaz da nova fornada, recém saído dum programa de novas oportunidades para anjos que tinham sido apanhados na malha do doping (com a grande depressão bastantes anjos da guarda tiveram de ficar a acompanhar 3 ou mais pessoas em simultâneo, o que levou muitos a terem de se socorrer da nandrolona).
Juliano Assanhado em poucos anos conseguiu arranjar material para 2 guerras mundiais e uma revolução comunista de bónus, não se via tal animação desde os tempos áureos de Lucifer, aliás, na portaria de Éden Celeste durante esse período fizeram-se fortunas em horas extraordinárias (por uma questão de principio estava vedada a contratação de temporários ao purgatório) para receber toda a sorte de clientela. O manancial de informação sobre os índices de CHA (Capacidade Humana para a Asneira) que foi recolhida sob o consulado de Assanhado constitui ainda hoje um património de valor incalculável (inclusive a comissão instaladora do Juízo Final já montou uma barbarioteca para poder passar uns documentários na fase de rescaldo do armagedeon enquanto o pessoal estiver nas salinhas de espera, ou a trocar de roupa para treinar o número do fim do mundo em cuecas).
Esta actividade milenar de ir retendo os segredos mais recôndidos da alma humana, designadamente as zonas limítrofes do penico onde muita da mijinha vai parar, é parte essencial do mistério da criação e é bastante claro que se Deus não tivesse entendido que a merda era um elemento chave do sistema teria deixado o esófago ligado directamente ao cu.
Etiquetas:
Banjos e Harmónios
Camões perdeu o emprego
Como sabemos, Gonçalo M Tavares desde o dia da 1ª comunhão escreve um livro por fim-de-semana. Com a profusão de fins-de-semana prolongados e pontes não seria de estranhar que nalgum destes acabasse mesmo por escrever uma versão pessoal dos Lusíadas; o que veio a acontecer e dar à estampa recentemente sob o título de 'viagem à índia' tendo recebido mais encómios que os muffins da nigella lawson.
Face ao inesperado, o Irritipsilon, suplemento literário do Purgatório, - que se dedica a acompanhar a evolução das obras dos seus residentes - resolveu entrevistar Camões no sentido de obter algumas reacções sobre este inesperado acontecimento literário ocorrido na crosta terrestre.
Luis Vaz encontrava-se na sauna a ouvir um disco dos tindersticks e a preparar uma versão pessoal de 'o crime e castigo' para frades beneditinos com um herói chamado Ismael Karenine e entitulado 'as velhas da taprobana'.
Irritipsilon - Sr Camões, diga-nos, quais são as suas primeiras impressões da viagem à índia do gonçalo m tavares, e da colagem que é feita aos seus lusíadas?
Sr Camões - oh, infantes, primeiro atravessai mares a nado / fazei só c'uma mão a letra de um fado / tapai um dos olhos com uma casca de figo / e depois, sim, vinde falar comigo
Irritipsilon - Sinto-o um pouco acossado, até há pouco era intocável, e agora vêm...
Sr Camões - nunca da ira retirei favores/ sempre o destino me foi trabalhoso / e não andei a sulcar o mar e a desbravá-lo/ para agora me virem chatear com um qualquer de gonçalo
Irritisilon - Dizem os especialistas da crosta que se trata de um novo monumento literário que irá perdurar pelos séculos...
Sr Camões - oh, instrumento da triste história universal do aproveitamento / ruína do sangue de viriato / fica aqui o meu lamento: / quando esgotada a lebre é entronizado o gato
Irritipsilon - Mas não pensa que esta renovação da epopeia num estilo semi-existencialista poderá ser benéfica, até pela curiosa originalidade, para as letras portuguesas?
Sr Camões - revolvo a memória da minha mágoa / ditosa a flama que tudo arde / mas quando se confunde o fogo com a água / até o ulisses se pode amancebar com o sartre
Irritipsilon - Mas não acha que a alma desencantada do português moderno também merecia a sua nova tragédia?
Sr Camões - a alma é um animal que não repousa/ mais honesto não há nessa insaciedade/ por isso o tal tavares fica a meio da cousa / quando diz que a literatura não tem ciúmes da realidade.
Irritipsilon - Mas não acha que Gonçalo M Tavares veio destapar um compasso novo para o ritmo interior da escrita em português?
Sr Camões - vocês, das revistas literárias / quando o açúcar açambarcado vos falta / põem-se a lamber as canas várias / à procura d'adoçante q'agrade à malta
Irritipsilon - Mas isto da literatura não será um eterno jogo entre a ilusão e a desilusão? entre a descoberta e o encobrimento?
(lembro aqui que a semi-pena a que Camões ficou sujeito nos seus 3.270 anos de purgatório foi a de ter de fazer 15 piscinas diárias levando numa mão um exemplar da saga do gilgamesh ilustrada por Eládio Simões um cunhado do fernão mendes pinto que era o desenhador de motivos campestres para os cortinados dos palácios da corte de castela)
Sr Camões - oh, que espirradelas de fontana sem piazza / não sabeis perguntar algo que não me irrite / ainda vos enfiava pelo cu um soneto em brasa / não tivesse no ombro a porra duma tendinite
Irritipsilon - Acha então que os críticos da crosta estão a levar o Tavares ao colo?
Sr Camões - acho que se cansaram das coisas que se percebem / levados que foram pela voracidade do enigma e do pretexto / e como já não é pela métrica que os versos se medem/ até a épica dum tavares faz do lobo antunes um antónio aleixo
Irritipsilon - Mas não considera que quando Tavares escreve no que-antes-era-seu-e-agora-também-é-dele canto IX : «Ela quer, Bloom hesita. Os dois avançam, a coisa faz-se», acaba por inventar a 'foda ontológica'?
Sr Camões - perca-se, enfim, já tudo o que esperei / um par de nádegas virou musa / um bobo sem piada tornou-se rei / as mamas já não pertencem a quem as usa
Irritipsilon - Não acredita, portanto, na renovação do ideal romântico, sob as vestes duma saga de desencantos intermitentes?
Sr Camões - o futuro quanto mais me paga mais me deve /por muito bom haxixe que se fume / por muito que seja o frio a derreter a neve/ quem não me engana é esse cabrão do Bloom
Irritipsilon - Safa, o senhor camões não aguenta mesmo o sucesso dos outros... pensa mesmo que consigo tinha acabado a tragico-maritimice portuguesa? fizeram-lhe algum mal?
Sr Camões - não pode mal haver para comigo / de que eu já não me possa bem livrar /se esses tavares esfregarem bem no umbigo / verão que ainda têm muito estafilococos para tirar
Irritipsilon - Credo! Olhe se o Shakespeare também tivesse ficado assim depois da Enid Blyton!? ...Então e o Dante depois do Corto Maltese!?
Sr Camões - enquanto o tempo o claro dia torna escuro / a vida vai pedindo às palavras para ocuparem o espaço / mas como elas vão continuando a erguer o seu muro / aconselho ao tavares mais umas garrafitas de bagaço
Irritipsilon - No final do livro GMTavares diz que «a ingenuidade é irrecuperável», pensa que este livro é no fim de contas um lusíadas para realistas preguiçosos?
Sr Camões - dei-vos uma realidade em decassílabo como benção / mas vós desdenhosos chamais-lhe epopeia pelos mares/ agora, quando me vierem pedir letras para o festival da canção / dir-vos-ei mas é para irem ter com o tavares.
(e assim termina o tríptico adventício a propos de gmt)
Face ao inesperado, o Irritipsilon, suplemento literário do Purgatório, - que se dedica a acompanhar a evolução das obras dos seus residentes - resolveu entrevistar Camões no sentido de obter algumas reacções sobre este inesperado acontecimento literário ocorrido na crosta terrestre.
Luis Vaz encontrava-se na sauna a ouvir um disco dos tindersticks e a preparar uma versão pessoal de 'o crime e castigo' para frades beneditinos com um herói chamado Ismael Karenine e entitulado 'as velhas da taprobana'.
Irritipsilon - Sr Camões, diga-nos, quais são as suas primeiras impressões da viagem à índia do gonçalo m tavares, e da colagem que é feita aos seus lusíadas?
Sr Camões - oh, infantes, primeiro atravessai mares a nado / fazei só c'uma mão a letra de um fado / tapai um dos olhos com uma casca de figo / e depois, sim, vinde falar comigo
Irritipsilon - Sinto-o um pouco acossado, até há pouco era intocável, e agora vêm...
Sr Camões - nunca da ira retirei favores/ sempre o destino me foi trabalhoso / e não andei a sulcar o mar e a desbravá-lo/ para agora me virem chatear com um qualquer de gonçalo
Irritisilon - Dizem os especialistas da crosta que se trata de um novo monumento literário que irá perdurar pelos séculos...
Sr Camões - oh, instrumento da triste história universal do aproveitamento / ruína do sangue de viriato / fica aqui o meu lamento: / quando esgotada a lebre é entronizado o gato
Irritipsilon - Mas não pensa que esta renovação da epopeia num estilo semi-existencialista poderá ser benéfica, até pela curiosa originalidade, para as letras portuguesas?
Sr Camões - revolvo a memória da minha mágoa / ditosa a flama que tudo arde / mas quando se confunde o fogo com a água / até o ulisses se pode amancebar com o sartre
Irritipsilon - Mas não acha que a alma desencantada do português moderno também merecia a sua nova tragédia?
Sr Camões - a alma é um animal que não repousa/ mais honesto não há nessa insaciedade/ por isso o tal tavares fica a meio da cousa / quando diz que a literatura não tem ciúmes da realidade.
Irritipsilon - Mas não acha que Gonçalo M Tavares veio destapar um compasso novo para o ritmo interior da escrita em português?
Sr Camões - vocês, das revistas literárias / quando o açúcar açambarcado vos falta / põem-se a lamber as canas várias / à procura d'adoçante q'agrade à malta
Irritipsilon - Mas isto da literatura não será um eterno jogo entre a ilusão e a desilusão? entre a descoberta e o encobrimento?
(lembro aqui que a semi-pena a que Camões ficou sujeito nos seus 3.270 anos de purgatório foi a de ter de fazer 15 piscinas diárias levando numa mão um exemplar da saga do gilgamesh ilustrada por Eládio Simões um cunhado do fernão mendes pinto que era o desenhador de motivos campestres para os cortinados dos palácios da corte de castela)
Sr Camões - oh, que espirradelas de fontana sem piazza / não sabeis perguntar algo que não me irrite / ainda vos enfiava pelo cu um soneto em brasa / não tivesse no ombro a porra duma tendinite
Irritipsilon - Acha então que os críticos da crosta estão a levar o Tavares ao colo?
Sr Camões - acho que se cansaram das coisas que se percebem / levados que foram pela voracidade do enigma e do pretexto / e como já não é pela métrica que os versos se medem/ até a épica dum tavares faz do lobo antunes um antónio aleixo
Irritipsilon - Mas não considera que quando Tavares escreve no que-antes-era-seu-e-agora-também-é-dele canto IX : «Ela quer, Bloom hesita. Os dois avançam, a coisa faz-se», acaba por inventar a 'foda ontológica'?
Sr Camões - perca-se, enfim, já tudo o que esperei / um par de nádegas virou musa / um bobo sem piada tornou-se rei / as mamas já não pertencem a quem as usa
Irritipsilon - Não acredita, portanto, na renovação do ideal romântico, sob as vestes duma saga de desencantos intermitentes?
Sr Camões - o futuro quanto mais me paga mais me deve /por muito bom haxixe que se fume / por muito que seja o frio a derreter a neve/ quem não me engana é esse cabrão do Bloom
Irritipsilon - Safa, o senhor camões não aguenta mesmo o sucesso dos outros... pensa mesmo que consigo tinha acabado a tragico-maritimice portuguesa? fizeram-lhe algum mal?
Sr Camões - não pode mal haver para comigo / de que eu já não me possa bem livrar /se esses tavares esfregarem bem no umbigo / verão que ainda têm muito estafilococos para tirar
Irritipsilon - Credo! Olhe se o Shakespeare também tivesse ficado assim depois da Enid Blyton!? ...Então e o Dante depois do Corto Maltese!?
Sr Camões - enquanto o tempo o claro dia torna escuro / a vida vai pedindo às palavras para ocuparem o espaço / mas como elas vão continuando a erguer o seu muro / aconselho ao tavares mais umas garrafitas de bagaço
Irritipsilon - No final do livro GMTavares diz que «a ingenuidade é irrecuperável», pensa que este livro é no fim de contas um lusíadas para realistas preguiçosos?
Sr Camões - dei-vos uma realidade em decassílabo como benção / mas vós desdenhosos chamais-lhe epopeia pelos mares/ agora, quando me vierem pedir letras para o festival da canção / dir-vos-ei mas é para irem ter com o tavares.
(e assim termina o tríptico adventício a propos de gmt)
Etiquetas:
camões perdeu o emprego,
ripipilados
viegas perdeu o emprego
Já estava praticamente em paz com a minha consciência, e inclusive com um bom negócio já apalavrado com o inconsciente, depois da alarvidade do post anterior, quando sou desamparadamente confrontado com uma entrevista que o Gonçalo M Tavares deu ao pravda da united colors of blogotton. Vacilei. De vez em quando fico infectado com este vacilo.
Como qualquer sportinguista sabe vive-se no nosso clube, seguindo o país, um momento de grande glória sob o triunvirato sergio-costinha-bettencurte. Julgo, pois, que é o momento certo de darmos mais um exemplo a todos e enriquecermos o discurso da 'entrevista-em-futebolês', introduzindo no seu seio o perfume do literaturês, ou seja, aquele incenso inebriante que emana das entrevistas a escritores e que se poderia também resumir em futebolês pelo: ocupar o espaço do entre-linhas. As entrevistas as escritores são das melhores coisas que não servem para nada do mundo - bem acima das pinturas do vasarely ou das vassouras dos kits lareira - e são uma oportunidade única que um treinador lagarto não pode nem deve desperdiçar quando precisa de dirigir a atenção para tudo menos para o que se passa no campo.
E foi assim que o júri do prémio Goncourt se lembrou arrancar com a nova categoria de prémio para a 'melhor entrevista a treinador estrangeiro', ao que Paulo Sérgio se devia candidatar aproveitando para usar algumas passagens com que GM Tavares abrilhantou a supracitada entrevista; passo a exemplificar.
Prémio Goncourt - Diga-nos, Paulo Sérgio, acha que as suas tácticas são determinantes para o jogo?
Paulo Sérgio - Tal como GMT disse «gosto muito da ideia de que cada forma diferente de escrita marca logo o conteúdo do que escrevemos», eu também gosto muito de considerar que são as minhas tácticas que determinam a merda de jogos que temos feito; eu estou para o bom futebol tal como certos romances estão para a arquitectura de interiores. Estou a pensar inicir uma nova estratégia de jogo a que chamarei 'Bairro Barbosa'.
P. G. - Sim...então, diga-nos, por exemplo, que instruções tinha dado ao seu jogador Vucevic para este se ter posto com fintinhas junto à bandeirola de canto quando podiam perfeitamente ter tentado ganhar àquela equipa do miúdo rouco, que até tinha menos um matreco e jogava com uma maçâ podre?
P.S. Bem, eu tinha dito ao Vucevic que, tal como ao GMT, «o que me atrai não é tanto o obstáculo é mais a ideia do cantinho escuro», ou seja, ele que procurasse os lugares do campo onde fosse feliz que assim as coisas bonitas e importantes haveriam de aparecer...
P. G. Sim...mas...não apareceram!?...
P.G. - Repare, eu e os meus jogadores somos como o GmT: «o que eu quero é ir iluminando partes do mundo que não conhecia», e todos nós sabemos que a zona da bandeirola de canto é ainda um grande mistério para o mundo do futebol.
P. G. - Vejo que aborda o jogo duma forma muito pessoal...
P.S. - Eu sou muito gmtavaresiano na forma de ler o jogo, como ele diria: «instintivamente , quando recebo uma 'jogada', é como se me movimentasse em redor dessa jogada', olhando para a parte de baixo dos passes, das desmarcações, como se pudéssemos levantar a saia dos dribles». Os bons treinadores estão sempre a desbravar a intimidade do jogo mas sem o macular, «eu não quero impor-me ao 'jogo', tento sempre colocar-me na posição de receber aquilo que ele me quer dar»
P.G. - Será por isso que uma ou outra vez alguns treinadores estão de cócoras no banco a olhar para o campo?
P.S. - «O Wittgenstein tem uma frase que considero muito bonita em que diz que quando quer mudar de teoria muda o corpo de posição. Isto faz muito sentido». E, como diria gmt, (não sei se já me referi a ele) treinar «não é mais do que contar uma história, que é a história de uma ideia».
PG - Acha que o seu treino, as suas tácticas, são mais histórias ou mais ideias?
PS -«Esta divisão entre histórias e ideias é uma divisão incorrecta». Eu «sou claramente do mundo das ligações», vejo o futebol como um processo, uma constante criação, «a pessoa vai avançando, avançando e a certa altura está num sítio diferente. Está naquilo.» O jogo é uma sequência de aquilos e os problemas que nos vão confrontando são precisamente os calcanhares d'aquilos.
PG - E então, sr Paulo Sérgio, como consegue equilibrar o jogo que salta tantas vezes de aquilos para aqueloutros duma forma tão vertiginosa?
PS - Bem, como diria GmTavares (julgo até que já falei dele) «estamos num mundo em que a questão do actual e do importante se joga minuto a minuto» e a minha fórmula é sempre esta, eu abordo o jogo como se ele já tivesse acabado, volto a GmT: «eu trabalho em diferido»
PG - Será então essa a razão pela qual esta época contratou 35 defesas centrais para depois continuar a jogar outra vez com os mesmos que já tinham provado ser uma bela trampa?
PS - Escalonar uma equipa é uma tarefa muito delicada e é preciso estabelecer critérios, «porque pode estar tudo numa confusão total, podemos estar mergulhados em elementos distintos, uns que atiram para um lado e outros para outro; quando começamos a organizar isso por ordem alfabética, a coisa ganha logo uma ordem, uma mágica». Eu acredito na mágica da ordem alfabética para definir uma equipa titular, e esta mágica irá impor-se, tenho a certeza.
PG - Mas terá de concordar que até agora não se viu nada de jeito...
PS. - Muitas vezes o processo da vitória e do sucesso é «um processo em que aquilo que nos parecia claro e evidente se torna mais escuro, mais obscuro». Ser vitorioso é ser paradoxal.
PG - Mas não há aí uma negação do heroísmo tão próprio da magia do jogo, do desporto?
PS - «Isto segue a estrutura da epopeia, logo desde a tempestade, no início». A magia precisa que primeiro se instale a perturbação, a desordem, é dessa combinação, sequência mesmo, que resultará o sucesso, como diria gmt (que, julgo, já referenciei há pouco): «nós precisamos das duas coisas, não te esqueças, cuidado, aqui há um perigo, mas ao mesmo tempo também acho que o encantamento é fundamental».
PG - Então vê os seus jogadores quase como personagens?...
PS - Claro. Por exemplo, Vucevic «é uma personagem que sabe muito claramente que é uma personagem, ali não há qualquer tentativa de parecer real». Por outro lado, se repararem bem, o Matias Fernandez (um jogador que foi contratado através do Facebook), joga como se levasse o santo graal na mão...
PG. - Acha que isso dará resultado?...
PS. - Posso-lhe assegurar que se GmT disse que «quase podemos organizar o mundo a partir do que as pessoas levam na mão» eu penso o mesmo em relação ao jogo, por exemplo, o Postiga nunca larga o seu cubo rubik e muitas vezes tem de rematar logo porque tem de tratar dele dado que as peças encravam muito com o uso e com a humidade da relva.
PG. - Se nos pode satisfazer a curiosidade... o que é que o João Pereira traz no seu regaço?
PS. - O João Pereira é um caso à parte porque é um rapaz que não consegue estar parado e eu , tal como o GMT (não sei se ouviram falar dele), «tenho muito medo das pessoas que não sabem lidar com o tédio», por isso como é importante tê-lo sempre em actividade, não vá arrear em alguém, ponho-lhe sempre na mão um pacote de cajus para ele ir roendo.
PG. - Julgamos entender... Identifica algum momento que tenha sido o seu primeiro grande entusiasmo táctico?
PS. - No jogo «gosto de coisas completamente opostas»... por exemplo, tal como GMT, entendo que «a grande velocidade é muito violenta», mas ao mesmo tempo o 'tédio também é perigoso', por isso tento incutir aos meus jogadores o encantamento da zona da bandeirola de canto ou do circulo central, e nos dias mais luminosos digo-lhes para irem uma ou outra vez à meia lua da área. Aos 18 anos vi os vídeos de todos os toques de calcanhar de Roberto Baggio, hoje não sei se seria capaz.
PG. - Acha então que se pode pensar no jogo como um lugar caótico, cheio de micronarrativas?
PS. - É engraçado: «parece-me que as pessoas ou são muito do e ou são muito do ou». « Eu 'vejo sempre vários jogos ao mesmo tempo'».
PG. - É por isso que os seus jogos estão sempre em diálogo com outros jogos?
PS. - É evidente que toda a tradição cultural está presente, não se pode pensar num Polga sem ignorar que já existiu um Hugo, nem se pode pensar num Saleiro ignorando que já existiu um Purovic, não se pode pensar que começámos logo a perder com o paços de ferreira sem esquecer que perdemos uma final da taça uefa em casa depois de estar a ganhar ao intervalo. 'Qualquer jogo que se jogue é sempre uma ousadia', como diria o nosso GmTavares, de quem julgo já falei aqui à atrasado.
(é evidente que esta potencial - e claramente precursora - entrevista de paulo sérgio para ser bem compreendida teria de ser acompanhada da leitura da entrevista de gMtavares à tal revista Ler (trechos entre aspas), mas como esta não foi incluída no pacote proposto para a campanha do banco alimentar, lamento o incómodo)
Etiquetas:
camões perdeu o emprego,
ripipilados
e descansem pois ainda não viram os meus desenhos no ibrushes
Considerando que a análise política e a análise económica estão destinadas ao fiasco, sobram apenas duas análises decentes ao homem moderno, e inclusivamente ao clássico: a análise literária e a análise religiosa. Repare-se antes de mais nos termos, não se tratam de 'comentários', nem 'críticas', são mesmo 'análises', ou seja, para melhor compreensão do vasto auditório: a análise é uma crítica mas já com as devidas e desproporcionadas ambições dialécticas de síntese, de, se quisermos ir mais longe (e , meu Deus, quem não quer ir mais longe) de sublimação, de - mais longe ainda - criação; e, Santíssima, (Deus já tinha sido invocado há pouco e praticamente em vão) quem não quer ser criador, nem que seja de galinhas!
Hoje tratarei de analisar em conjunto os fenómenos 'Gonçalo M Tavares' e 'preservativo', ou melhor, expondo-os em conjunto, designaria esta análise por: 'Santo António perdeu o emprego'. Reformulo apenas para efeitos didácticos: Gonçalo M Tavares (do qual o seu último livro premiado à francesa é bom exemplo) está para o soit disant «fenómeno da literatura em português» como o preservativo está para a não menos soit disant «ética sexual católica». Poderia dizer-se que é uma análise sem futuro pois só lê quem quer e só fode quem quer; falso. Irão compreender-me, prometo.
Experimentem acompanhar-me. Ao lermos GMT estamos a entrar num universo misterioso que deveria ser preservado: o universo da impotência literária, ou seja, entramos num grande ovário de paredes polidas onde apenas chocalha um liquido amniótico chamado 'vocês-nunca-poderão-acompanhar-este-paleio-porque-o-meu-espermatozoide-era-turbo'. O universo literário de GMT funciona assim como uma grande menopausa, não precisamos de nos prevenir de nada; diria até mais, basta ler utilizando o método-das-temperaturas: se estivermos com febre aquilo desliza muito melhor. Por outro lado, a tendência processual (ou o processo tendente, como se queira) para a reformulação moral ( 'reformulação' é o termo canónico para relativização, sublinhe-se) do uso de um método anti-concepcional artificial (está em curso a criação da Alta Autoridade para a definição de naturalidades e artificialidades) equiparando-o a uma mera abstinência (e não há nada mais artificial que uma abstinência técnica, alerto para o facto) é efectivamente também o método literário específico utilizado por GMT: quando se pensa que uma razoável ideia ficcional, poética, lírica, está pronta para germinar naturalmente, choca repentinamente com uma barreira aborrachada de nonsense que a deixa ali a chapinhar com outras produzindo um conjunto leitoso de nhanha literóide que se transformará, se for devidamente acondicionada, em direitos de autor alguns meses depois. É, então, um processo que merece ser acarinhado, até mesmo subsidiado, se bem que isso agora já não seria tão bem visto, depois da interrupção voluntária do cheque-bébé.
Permita-se-me então rapidamente a síntese: A melhor forma que a ética cristã tem de abordar o grande mistério da concepção é fazer ver aos seus fieis que sto antónio pode ter o emprego em perigo quando foder se tornar um mero acontecimento meta-literário.
Etiquetas:
camões perdeu o emprego,
ripipilados
Subscrever:
Mensagens (Atom)