Máquina de fazer salingueres (III)

Como sabemos, corre de badajoz para cá um concurso de construções na areia para o melhor busto com elogio fúnebre a salinger (a par de outro para acertar no rating da república em 2010 mas sem busto). Dada a circunstância do pessoal poder perfeitamente despachar o serviço de panegiretas dizendo que, ao defunto - que Deus tenha - lhe bastou escrever apenas um livro conhecido, mais a cena macaca do bananafish, tem sido um concurso monótono, tal como se fossemos ao casino e estivesse toda a gente a apostar no 23. No entanto, há sempre um adamastor que se destaca nos intervalos do musgo e desta vez encontrei um brinde no FJViegas, que reza assim:

«Salinger, ao contrário dos políticos, sabia que as revoluções não se fazem com revolucionários (geralmente profissionais) mas com revoltados. É esse o segredo dos autores que mudaram a vida de milhões de leitores»

Queria afirmar, com a solenidade que me permite a situação de estar a sentir uma apertada necessidade de passar a usar calças nº 46, que, a partir de hoje: sou oficialmente um revoltado - e não um revoltado qualquer, mas sim um revoltado profissional. Preparem-se, milhões aí desse lado: vou mudar a vossa vida até agora despovoada de verdadeiras emoções, e duma forma que nem a escova de dentes irá reconhecer a vossa gengiva. Devastar-vos-ei com a clareza tensa do meu discurso, numa epidurálica simbiose de beleza e intensidade que fará qualquer tocador de pífaro passar directamente para a tuba sem passar pelo trombone. Penso que inclusive já deveis estar a sentir, se fordes pessoas sensíveis, qualquer coisita pela espinha acima (ou abaixo, dependerá da hormona que esteja de plantão). Infelizmente o meu segredo foi descoberto - estava preparado para me revoltar apenas quando fizesse as próximas análises à próstata - e assim não posso adiar mais para soltar a revolta que transporto encarcerada no meu buliçoso e cada vez mais roliço ser. Geralmente eu quando revolto assim muito de repente - o homem morreu sem avisar e o fjviegas não soube guardar um segredo - dá-me sede e por isso tenho de fazer umas pausas para dar uma golfada, não estranhem e dêem um desconto pois costumo não ser tão presciente a escrever quando gargarejo - eu nunca engulo, registe-se. Ia então dizendo-vos que a minha revolta poderá abrir-vos horizontes que antes nem suspeitáveis, ainda há pouco, e nem estava completamente revoltado, a minha vizinha de baixo - que é parecida com uma moça que vaporiza revoltosos caracóis nuns anúncios de shampoo - me convidou para um chá verde com gengibre, julgo mesmo que foi assim que o mao começou a grande caminhada, nunca se esqueçam que o acto mais revolucionário é a amizade, sobretudo se vier acompanhada de bastante clareza nos detalhes. Sinto que já estou a mudar a vossa vida e ainda nem fiz uma opa à cimpor. Mas é preciso revoltar em grande para que tudo não revolte ao mesmo.

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