Para quem ainda não fez uma lista da década e esteja precisado de palavras e expressões chave para distribuir pelas suas obras d'eleição (dá para discos, filmes, atum em conserva, livros, jogos de consola, ou consolo, peças de teatro, pomadas e qualquer tipo de sortido de exposições temáticas) o dicionário não ilustrado inaugura o ano novo fazendo jus à sua máxima: muita parra e pouca uva. (entradas 1321 a 1329). Há que comer o bit que o diabo htmlou.
'Uma obra conceptual' - Verdadeira especiaria de qualquer lista, tornou-se uma arma de retórica obrigatória desde que o Brian Eno se lembrou de começar a verter o ruído do seu autoclismo para débitos em conta produzidos pelos copiraites. Como tem um travo demasiado intenso deve apenas ser utilizada uma vez em toda a lista, mas se por descuido pingar uma segunda vez nunca esquecer de regar também com várias aspersões de essências de 'tamanha sofisticação' ou 'abrangência tal'.
'Visionário' - É um termo de utilização canónica, que por si só consegue catalogar imaculadamente qualquer manifestação da expressividade humana que ambicione dois ou três séculos de remuneração acima do pulitzibor. No entanto, para nos salvaguardarmos das desagradáveis oscilações de câmbio nunca deveremos desprezar o efeito garantido do «perfeito», e jamais perder a oportunidade de utilizar um «subversivo», mesmo que seja nas costas da lista do vizinho.
'O mais perfeito resumo duma época' - Desde que Gibbon utilizou esta expressão para descrever o momento em que S. Pedro pisca o olho a uma cananeia em pleno Coliseu de Roma que ela (a expressão, e não a cananeia - que acabou a ladrilhar a catacumba de S. Calisto) entrou no fervilhar da grande eloquência laudatória. É essencial a utilização deste momentum laude em qualquer lista pois: a) revela uma noção do todo ; b) revela uma noção de parte. Em qualquer caso não é uma expressão que se aguente por si própria e não prescinde dum polvilhar de «brilhante's» e, se for caso, de um ou outro banho de «transcendente's».
'Nada ficou igual a partir daí' - Sendo que é imprescindível apresentar um domínio completo do fluir de modas, costumes, conceitos e gama de pantones, esta expressão tornou-se um clássico a partir do momento em que Catarina de Médicis introduziu a moda das cuecas de senhora em França. É de utilização segura e comprovada por séculos de encomiostologia criativa e, sem perder o pé nos superlativos relativos para puder pular convenientemente nos superlativos absolutos, deve permitir que se possa mexer bem em torno do cheirinho obrigatório do 'deixou uma marca indelével'.
'Universo singular' - Apesar de parecer uma caracterização demasiado pouco exigente, não deixa de enobrecer o carácter inclusivo que qualquer lista moderna deve apresentar. Desde o paneleirismo sombrio de Cheever ao encaracolamento neuronal de M. Amis que os universos singulares nos acossam a cútis como pulgas com cio e ninguém pode ficar indiferente. Apesar de poder ressequir com o abuso de figuras de estilo coloridas é aconselhável deixar a aloirar no final com um pouco de «fundamental», desde que se controle a teor de nabokovismo.
'Capaz de resistir a todas as provas do tempo' - Sendo que é uma expressão que pode combinar muito bem com os sabores da bastante gráfica : 'traçou o mapa definitivo', revela-se frequentemente como a verdadeira guarda fronteiriça entre o profissional da lista e o mero curioso. Só ao listador experimentado é permitida a sua desinibida utilização sem que lhe sejam detectados quaisquer tiques ou limitações, mas desde que ruben fonseca vendeu a sua 1254ª personagem feminina a foder alegremente mercenários de monopólio sem passar pela casa dos preliminares que se pode utilizar a expressão sem qualquer rebuço, seja a marisqueiras seja a monografias sobre os submarinos alemães da 1ª guerra.
'Dá-nos uma lição' - É a expressão que facilita ao listing-lover a introdução do elemento pedagógico na sua coreografia. Se a capacidade de aprender é uma mais valia reconhecida desde que Cleópatra sangrou das gengivas da primeira vez que chupou os ossinhos duma cabeça de coelho guisado, a capacidade de indicar onde os outros podem aprender é uma experiência mais recente, e apenas possível com o advento da inveja à condição de pecado. É, contudo, uma expressão ingrata pois pode deixar o listador a descoberto de algum deficit de assimilação mais grosseira, género «mas nem assim tu aprendeste». Nunca poderá sobreviver sem a acolitagem de purpurinas como 'sagacidade', ou, em situações de desespero, 'luminosa' ou mesmo - se o carnaval não estiver por perto - 'fulminante'.
'Nunca nada de parecido sequer foi tentado' - É crucial para qualquer lista o elemento categórico, a afirmação determinada da exclusividade que nos damos ao luxo de partilhar, seja por excesso de magnanimidade, seja por aquela bondade simples que habita em corações estilhaçados pela incompreensão ou retalhados pelo solilóquio. No caminho que se iniciou na ilusão metódica (platão), passando pela dúvida (descartes), para desaguar na confusão metódica (freud) vários foram e são os apeadeiros da singularidade que jamais devem ser esquecidos e merecem mesmo o adorno especial da dupla «inesquecível & irrepetível», tão necessária para as técnicas de decoração de listas como a diana chaves é para os anúncios da Multiópticas.
'Fixou-nos a essência' - Será imperdoável deixar em branco a capacidade de distinguir um criador que vá ao cerne. Quem nos descobre os cernes merece a nossa eterna gratidão, é inclusivamente mais decisivo do que quem fixa os cânones, pois os cernes estão para o pensamento e para a arte como os wonderbras estão para as mamas. Podemos encontrar a importância da fixação de cernes desde que Aquiles pendurou a espada na garupa do cavalo de troia para arrear uma mijita decente antes de entrar no palácio. E então se soubermos introduzir algo como um «transcendeu o género» poderemos elevar a nossa escolha ao Austerlitz das listas.
'Uma obra conceptual' - Verdadeira especiaria de qualquer lista, tornou-se uma arma de retórica obrigatória desde que o Brian Eno se lembrou de começar a verter o ruído do seu autoclismo para débitos em conta produzidos pelos copiraites. Como tem um travo demasiado intenso deve apenas ser utilizada uma vez em toda a lista, mas se por descuido pingar uma segunda vez nunca esquecer de regar também com várias aspersões de essências de 'tamanha sofisticação' ou 'abrangência tal'.
'Visionário' - É um termo de utilização canónica, que por si só consegue catalogar imaculadamente qualquer manifestação da expressividade humana que ambicione dois ou três séculos de remuneração acima do pulitzibor. No entanto, para nos salvaguardarmos das desagradáveis oscilações de câmbio nunca deveremos desprezar o efeito garantido do «perfeito», e jamais perder a oportunidade de utilizar um «subversivo», mesmo que seja nas costas da lista do vizinho.
'O mais perfeito resumo duma época' - Desde que Gibbon utilizou esta expressão para descrever o momento em que S. Pedro pisca o olho a uma cananeia em pleno Coliseu de Roma que ela (a expressão, e não a cananeia - que acabou a ladrilhar a catacumba de S. Calisto) entrou no fervilhar da grande eloquência laudatória. É essencial a utilização deste momentum laude em qualquer lista pois: a) revela uma noção do todo ; b) revela uma noção de parte. Em qualquer caso não é uma expressão que se aguente por si própria e não prescinde dum polvilhar de «brilhante's» e, se for caso, de um ou outro banho de «transcendente's».
'Nada ficou igual a partir daí' - Sendo que é imprescindível apresentar um domínio completo do fluir de modas, costumes, conceitos e gama de pantones, esta expressão tornou-se um clássico a partir do momento em que Catarina de Médicis introduziu a moda das cuecas de senhora em França. É de utilização segura e comprovada por séculos de encomiostologia criativa e, sem perder o pé nos superlativos relativos para puder pular convenientemente nos superlativos absolutos, deve permitir que se possa mexer bem em torno do cheirinho obrigatório do 'deixou uma marca indelével'.
'Universo singular' - Apesar de parecer uma caracterização demasiado pouco exigente, não deixa de enobrecer o carácter inclusivo que qualquer lista moderna deve apresentar. Desde o paneleirismo sombrio de Cheever ao encaracolamento neuronal de M. Amis que os universos singulares nos acossam a cútis como pulgas com cio e ninguém pode ficar indiferente. Apesar de poder ressequir com o abuso de figuras de estilo coloridas é aconselhável deixar a aloirar no final com um pouco de «fundamental», desde que se controle a teor de nabokovismo.
'Capaz de resistir a todas as provas do tempo' - Sendo que é uma expressão que pode combinar muito bem com os sabores da bastante gráfica : 'traçou o mapa definitivo', revela-se frequentemente como a verdadeira guarda fronteiriça entre o profissional da lista e o mero curioso. Só ao listador experimentado é permitida a sua desinibida utilização sem que lhe sejam detectados quaisquer tiques ou limitações, mas desde que ruben fonseca vendeu a sua 1254ª personagem feminina a foder alegremente mercenários de monopólio sem passar pela casa dos preliminares que se pode utilizar a expressão sem qualquer rebuço, seja a marisqueiras seja a monografias sobre os submarinos alemães da 1ª guerra.
'Dá-nos uma lição' - É a expressão que facilita ao listing-lover a introdução do elemento pedagógico na sua coreografia. Se a capacidade de aprender é uma mais valia reconhecida desde que Cleópatra sangrou das gengivas da primeira vez que chupou os ossinhos duma cabeça de coelho guisado, a capacidade de indicar onde os outros podem aprender é uma experiência mais recente, e apenas possível com o advento da inveja à condição de pecado. É, contudo, uma expressão ingrata pois pode deixar o listador a descoberto de algum deficit de assimilação mais grosseira, género «mas nem assim tu aprendeste». Nunca poderá sobreviver sem a acolitagem de purpurinas como 'sagacidade', ou, em situações de desespero, 'luminosa' ou mesmo - se o carnaval não estiver por perto - 'fulminante'.
'Nunca nada de parecido sequer foi tentado' - É crucial para qualquer lista o elemento categórico, a afirmação determinada da exclusividade que nos damos ao luxo de partilhar, seja por excesso de magnanimidade, seja por aquela bondade simples que habita em corações estilhaçados pela incompreensão ou retalhados pelo solilóquio. No caminho que se iniciou na ilusão metódica (platão), passando pela dúvida (descartes), para desaguar na confusão metódica (freud) vários foram e são os apeadeiros da singularidade que jamais devem ser esquecidos e merecem mesmo o adorno especial da dupla «inesquecível & irrepetível», tão necessária para as técnicas de decoração de listas como a diana chaves é para os anúncios da Multiópticas.
'Fixou-nos a essência' - Será imperdoável deixar em branco a capacidade de distinguir um criador que vá ao cerne. Quem nos descobre os cernes merece a nossa eterna gratidão, é inclusivamente mais decisivo do que quem fixa os cânones, pois os cernes estão para o pensamento e para a arte como os wonderbras estão para as mamas. Podemos encontrar a importância da fixação de cernes desde que Aquiles pendurou a espada na garupa do cavalo de troia para arrear uma mijita decente antes de entrar no palácio. E então se soubermos introduzir algo como um «transcendeu o género» poderemos elevar a nossa escolha ao Austerlitz das listas.
2 comentários:
A continuar deste modo acabo alfabetizada no idioma Português: impressionante a sua habilidade quando "Freud"(verbo)com certos termos ou conceitos; um iconoclasta!
Permita-me acrescentar alguns à lista:
- "perfeito" já foi dito;
- "divisor de águas";
- "absoluto domínio da técnica";
- "amadiano", "rodriguiano" como designação de estilo no Brasil;
- "irretocável";
- possibilidades palatáveis como "saboroso", "ácido".
Ri com os seus textos hoje, e apenas comecei 2003, tem sido ótimo!
Evanise
ui, mas q gentileza; e tb que bela expressão a das «possibilidades palatáveis»!
ps. o «irretocável» precisa da música dos trópicos, só se aguenta mesmo no formato 'irrêtôcávéu'
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