Rolando Ginja

Rolando Colaço fora um rapaz perfeitamente normal até se ter submetido a um tratamento revolucionário para a recomposição demográfica do seu deficit capilar. Nessa sequência e após vários implantes de duvidosa proveniência foi confrontado com uma moleirinha ao nível duma paisagem lunar após a explosão em busca do milagroso agádoizó. Inconformado, recorreu aos serviços de plástica & estética dum especialista credenciado que, nada lhe prometendo no seu aspecto em geral, lhe garantia farta cabeleira em particular. A intervenção correu sem necessidade de atestados falsos e o efeito obtido levou a que a enfermeira do recobro, Vânia Coentrão, de fogosa fama, exclamasse: «Rolandinho, o menino ficou uma autêntica ginja!». E assim ficou posterizado: Rolando Ginja.

Rolando Ginja no pós operatório

A tara pelos clássicos que o cirurgião plástico Leonardo Vassily alimentava desde os seus tempos de faculdade, levara-o a uma técnica de recuperação de coiros cabeludos denominada de minotaurização, uma combinação entre criatividade hormonal, cogumelos mágicos, transplantes avulsos, e citações de Plutarco. Nalguns casos, como foi o de Rolando Ginja, esmerava-se; iconoclasticamente.

Rolando estava assim pronto a iniciar uma nova vida, procurando fazer render ao máximo a sua nova condição de minotauro-ginja. Desde logo percebeu que uma vida solitária não estava protegida pela lei que inexplicavelmente apenas contemplava uniões entre machos e fêmeas sem qualquer atributo mitológico, num desprezo evidente pelas raízes culturais da nossa civilização. Decorrentemente todas as suas experiências de teor romântico se viram turvadas ao desembocar num beco sem qualquer possibilidade de relevância jurídica, para além de desencadearem um, mais do que justificado, alarme mitológico nas mulheres que, ao olharem para o seu minotauro-ginja pensavam de si para si «uma coisa é fornicá-los outra é pari-los».

Rolando Ginja e Célia Saraiva em Amor Romântico na sua fase turva
Rolando Ginja sentia-se assim desiludido com o rumo que tinham levado a suas experiências românticas, nas quais ele tinha entregue o melhor de si a todos os níveis - desde os corninhos à ginjinha - mas não tinha sido o suficiente para se libertar do labirinto de incompreensão constitucional que lhe estava destinado. O amor não quebrava todas as barreiras, envergonhando-se assim séculos e séculos de poetas e místicos, e abria-se caminho a mais um rol de séculos e séculos de orgulho para dramatófilos e existencialistas carecas.
Restava-lhe enveredar pela etapa seguinte de relacionamentos mais baseados no intercâmbio de fluidos e afago de coiros. Aumentava a despesa em álcool e lingerie, mas diminuía a conta da florista e do trovador. Rolando mostrava-se episodicamente melancólico, mas regra geral fazia jus à sua condição de minotauro-ginja, ora investindo, ora bufando, ora sendo um autêntico tauro-sapiens que apresentava a ternura ainda num estado tão puro como o vodka de Novosibirsk.

Rolando Ginja e Carla Solange em momento de experimentação lúdica
Mas mais uma vez o impedimento legal de formalizar juridicamente uniões sólidas baseadas num processo de destilação comum entre um minotauro-ginja e uma roliça fêmea (nenhuma mulher se sustenta com uma mera bebedeira e uma amizade colorida pelo entardecer na lezíria) levaram Rolando a um processo de depressão e desligamento do mundo do qual saiu apenas a muito custo, e graças à intervenção das freiras de uma ordem especializada em problemas de índole mitológica e desvios de carácter relacionados com a interpretação literal da filosofia clássica.
Foi em pleno processo de recuperação que o nosso Rolando Ginja descobriu a sua verdadeira vocação de partilha sensorial. Afastado da procriação, afastado do amor romântico, afastado do experimentalismo lúdico, descobriu o seu caminho no amor-em-pluralismo. Iria dedicar-se a promover a causa dos amores-grupais entre minotauros, ex-jogadores de rugby franceses e modelos de Botero.

Rolando, François Cabernet, Julia Guiomar e Sandra Bajouli em pleno activismo do lobi ginja
Rolando reencontrou nessa sua causa uma nova razão para viver. Sem barreiras de classe, nem de penugem , nem de apêndices cranianos, nem de largura de cintura, homens, mulheres, seres mitológicos, e convalescentes do serviço nacional de saúde, todos poderiam construir uma vida em comum sem necessitar de adoptar nem gatos, nem cães, nem periquitos, nem quaisquer outros mamíferos transgénicos, tendo como lema: «Temos de ir levando isto por partes e com tempo para coçar os tomates»
Rolando transformou-se assim o mais activo elemento daquilo que ficou conhecido como o 'lobi-ginja', que acolhia portadores de pilas, testas e lombos de todas as maneiras, rigidezes e feitios, e que deu aos minotauros e às mulheres sem verba para a depilação laser uma nova luz de fantasia & esperança.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ena, ena... uma ginjoína órgia pilosa!

C.

aj disse...

tudo ao serviço do peloralismo

zazie disse...

ehehe