Viúva-alegre #9

A sua oscilação entre momentos dalguma apatia e dalguma exaltação era, pensava, um preço que tinha de pagar por ter sido tão eficiente no seu processo de defuntação do marido. Entre o início do plano concreto e a sua execução tinham passado pouco mais de dois meses e, se bem que não pode contar com acompanhamento psicoterapeutico, assumia que a infraestrutura do luto estava assente num terreno de certa forma movediço. No entanto, e apesar de nunca ter lido Hegel, nem sequer em creme para as estrias, desconfiava que seria nalgum conflito que se encontrava o motor do renascimento, diga-se alegramento, no caso. Muitas vezes olhava para si como uma ditadura que passara a democracia por via dum golpe de estado e que ficara com uma guerra civil entalada na garganta. Nestas alturas, entranha-se um espírito reformista, ou seja, no caso, abre-se um pouco mais as pernas. Mas ela estava avisada: a viúva sábia procura um homem, a viúva tola encontra-o.

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