Viúva-Alegre #1

Matara o marido numa quarta-feira de Setembro. Deixara passar as férias sem grandes convulsões, apenas com dois ou três caprichos para não criar particulares desconfianças, e tinha evitado matá-lo num fim-de-semana, pois se o domingo já de si é sagrado, ele costumava passar o sábado a pôr-se em dia com as notícias. O marido gostava de andar informado e ela também não queria que ele se apresentasse ao Grande Desconhecido com algum acontecimento importante por saber.
Matara-o apenas introduzindo veneno nuns croquetes que supostamente teriam sido confeccionados pela sua mãezinha. Pelo sim pelo não matavam-se 3 coelhos: o coelho-álibi-perfeito, o coelho-sogra-inconsolável, e, claro, o coelho-marido-defunto. Encerravam-se entre carne picada, por assim dizer, alguns anos de um certo amor, entre outras miudezas, vivido em comum. Foi asseado, - ele não tinha sequer vomitado -, rápido, e aparentemente acompanhado de dor de pouca monta, coisa que qualquer asmático já suportara depois duma corridinha rápida para apanhar um eléctrico.
Tornara-se viúva de plenos direitos. Faltava agora juntar o alegre.

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