Jens Lekman vem (cantar) a Portugal. No artigo da Ípsilon de hoje, o Bonifácio de turno refere que os amigos de Lekman dizem das suas canções «isto não aconteceu assim», desconfiando de tanto sofrimento, de tanta, soit disant, ingenuidade sentimental. Eu gosto imenso de Lekman. Da voz, das melodias, dos textos, é isso mesmo: há ali um grau de pureza que desmancha as defesas, que mina a casca. E acho que se devemos investir em algo ‘ingenuamente’ é no sentimento. Se há algo que a experiência humana nos oferece de brinde é sentirmos ingenuamente; é esse sentimento que vai polindo por dentro a nossa redoma. Polir por dentro. Pura seiva dentro da mais dura casca. Mas temos de tratar bem da casca para preservarmos a seiva.
As modernas teorias da neurosentimentologia gostam de compartimentar e catalogar os sentimentos, (ou emoções, como se queira chamar) procurando caminhos, bifurcações, crochets e viadutos na mente. Especulando sobre as estratégias da nanoquímica. O mundo das canções (de Lekman) mostra que existe apenas um sentimento, uma seiva, e eu acrescentaria: o que existem são muitas cascas.
Sem comentários:
Enviar um comentário