Francisco José!...

Um aluvião possidónico assolou de repente a blogaria literaloide portuguesa: a aversão ao ponto de exclamação. (pelos vistos até recuperando um esgar mexiano de 2007, mas duma altura em que ainda precisava de dar um pouco nas vistas). O texto de JMSilva então apresenta um acervo de tiradas dignas duma espécie de Paula Bobone da crítica literária (‘sintoma da absoluta falta de requinte estilístico’, ‘ideal para adolescentes idealistas’, ‘prenúncio de estridências capazes de furar o silêncio da leitura’, ‘profunda incapacidade de alguém se fazer explicar’, – esta é dum tal de Palomar, Senhor – ‘muleta dos maus escritores que querem impressionar’, etc) recolhendo o maior chorrilho de granulado para dissolver desde o discurso dos irmãos castro nos prémios gazeta dos desportos. Ora então queridos especialistas em escrita explicativa de requinte sem muleta, dizei-me, como vai significar um ‘bum’ sem ponto de exclamação, um peidinho sem cheiro?, (calma, ponto de interrogação ainda não fura o ‘silêncio da leitura’) um orgasmo sem jacto?, uma sodomia sem rabo? Como fazemos? E a seguir a um foda-se gritado? Também não se pode? Arredonda-se para ponto e vírgula? Como fazemos: «O senhor Palomar ia na rua encontrou o senhor Silva e estavam os dois muito bem a falar sobre o último Nabokov quando o sr Francisco José se aproxima e lhes arremessa com um 'martelo pneumático' na testa. Palomar, senhor, desmaia, e Silva, senhor também, grita: foda-se, ponto e virgula, Francisco José, que bruto, ponto e virgula; era uma metáfora virgula será que só tens reticências nessa moleirinha?». Será assim? O que fazemos com leitores e críticos tão sensíveis, receosos que a exclamação-em-ponto-de se lhes atormente a boca do cólon do estilo? Damos-lhes o lápis azul do ‘requinte estilístico’? É que nem a reticência vai escapar, coitada, mas atenção: novo lema: todos a castrar a exclamação, acordo ortográfico é que não! Perdão, ponto e virgula. E se o escritor quiser mandar o leitor e o personagem principal para o caralho, e por atacado, no final do livro, como faz? Mete dois pontos travessão? E se uma velha cai a rebolar numas escadas e lá em baixo no fundo das ditas está o Pacheco Pereira? Como se descreve? Ela diz, «carago, não me bastava cair das escadas e ainda tinha de apanhar com este ponto e virgula dum cabrão» (mulher do norte). Como é? (se me acabam com o ponto d’interrogação é que fico desgraçado) E como fazemos para não ‘furar o silêncio da leitura’ do sr. José Mário se quisermos mandar um GNR ir passar multas de excesso de velocidade para a puta que o pariu? «Senhor agente ainda agora me apeteceu enfiar-lhe um cacetete de exclamação pelo cu acima mas não sei o que vão dizer os críticos do Expresso». E o que faço quando me perguntarem da Granta como estou das costas? Digo «que aborrecimento esta sensação de espasmo que me subverte em dor o lombo querido»? Não seria melhor um «dói-me como o caralho!», meus anjos da guarda do estilo? Então e se eu quiser mesmo um 'martelo pneumático' no final da frase? Qual é o mal de querer um 'martelo pneumático' no final da frase? Não devo? Aumento as contas d'otorrino de alguém? Tenho de acabá-la em chave de fendas? Só a picareta é que não avilta o estilo? Desisto. Também ando com uma imensa incapacidade de impressionar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Sol a mais na moleirinha, esqueceram-se do chapéu. É aguardar pela chegada do Inverno e os moços voltam ao «oxford comma»...

C.

aj disse...

vou pensar q o calor directo num sitio tão sensivel possa estar a influenciar, sim :)

Anónimo disse...

No entanto pode sempre encará-los como os novos "bas-bleus", uma variante de Mr Stillingfleet à procura da sua (deles) Mrs Montagüe.

C.

aj disse...

ora aí está uma imagem que dispensa exclamações.