Cajuda

Os charutos e o whisky que estiveram na origem do post anterior [eu sei que não leram] acabaram, e pensei em voltar aos jornais para chocalhar as ideias. Mas os jornais apresentaram-se fracos, tirando o facto de Cajuda dizer no Público ser ‘mais inteligente do que aquilo que parece’. Ora quando há muitos anos eu tive de escolher uma pessoa para me irritar: escolhi Cajuda. Estive indeciso entre ele e o Martelinho, um cabrão dum jogador do Boavista que entrava sempre no final dos jogos contra os lagartos para nos marcar um golo. É evidente que apenas o futebol nos cria genuínas urticárias (a politica, a literatura, e as vizinhas dos lado apenas dão azo à comichão ou ao prurido) e Cajuda foi a que me calhou; mesmo que ele apresente nome de aperitivo efeminizado , o que, por si, até podia levar-me a criar alguma empatia, pois a minha paixão por aperitivos – não confundir com preliminares – é uma das marcas mais estáveis da minha personalidade, tirando um sofisticado estado de incompreensão que me acompanha intermitentemente desde o berço. Nesta entrevista absolutamente desinteressante e que apenas eu, o jornalista que o entrevistou, (um tal Paulo Curado – que Deus nosso Senhor o preserve em boa saúde) e o próprio Cajuda leram, este diz que recusou uma proposta milionária para treinar um clube no Qatar. Começo a ter pena de Cajuda, a síndrome de ‘o-Pinho-afinal-era-bom’ está também a tomar conta de mim. Penso agora até que ‘Cajuda no Qatar’ era um óptimo mote para um romance de teor naturalista, logo seguido em regime de sequela com ‘Pistacha no Bahrein’, para terminar a saga com ‘Tremoça no Dubai’. Uma espécie de 'Arábia Minha' em três actos. Eu sei que me estou a desviar do meu importantíssimo desígnio, inclusive de forma oficiosa e trocadilhosamente parva, mas, têm de me compreender, o meu secreto sonho era escrever mesmo uma saga no deserto. Escorpiões, beduínas e tapetes voadores, o que pode um homem pedir mais à sua lamparina mágica. E se pudesse lá ter o Cajuda, tanto melhor. São as pequeninas irritações que nos irrigam o oásis. Tenho mesmo imensa pena de neste momento não ter mais nada para vos contar, ou melhor, tinha, tinha algo sobre a dignidade da pessoa humana, o vazio de valores e o pessimismo antropológico, mas devem compreender, não posso escrever como quem mete uma bucha, e nem todos somos especialistas em entalhe. Mas, atenção, sou muito mais carpinteiro do que aquilo que parece. Cajuda, fica, pela tua rica saúde.

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