Manifesto pela Desigualdade

A desigualdade no acesso ao casamento civil é uma questão de justiça que merece o apoio de todas as pessoas que se opõem à parvoíce e à banalização.
Uma das grandes evidências da criação - desde que nos libertámos das filosofias impregnadas de má jeropiga idealista - é que somos todos muito desiguaizinhos benza-nos Deus. Aliás este próprio Deus quando por cá andou, perdoe-se o plebeísmo da expressão, tratou todos de maneira diferente, desde um Lázaro que ressussitou, até aos vendilhões que expulsou, já para não falar dos ladrões que com ele arrumaram as botas no gólgota. E se um ou outro cego foi curado por Jesus, nunca insinuou que éramos todos ceguinhos. A igualdade é por isso uma construção piedosa e meramente retórica e instrumental, e mesmo na religiosíssimamente correcta declaração ‘somos todos filhos de Deus’ não se arrisca tal arrojo, sabe-o bem quem experimenta a paternidade em qualquer das suas versões mais ou menos cinematográficas.
Ora sendo a desigualdade perante o outro, perante a natureza em geral, e perante deus, absolutas evidências empíricas, exigir à lei que venha pôr cobro a essa malandrice da criação é, obviamente, pedir-lhe muito, tanto mais que apenas dar-se a perceber já não seria mau de todo.
É por isso que o esforço que as leis devem fazer não é o de ir em busca dessa quimeralada, mas antes aliviar (sem relaxar) aquilo em que ela – a desigualdade - possa ser um excessivo fardo, e potenciar aquilo em que ela possa ser uma bênção.
Sendo tanbém uma curiosa realidade da criação que certas almas se empaneleirem umas com as outras, (seja mais porque nasceram assim, ou seja mais porque viram na televisão, ou seja mais porque o paizinho respectivo não lhes deu uma pista scalextrix na festa dos 10 anos), a santa lei (ou, como dizem os gajos que tiveram agora 26% dos votos: ‘a ética da república’) deve facilitar primordialmente que isso possa ser vivido no máximo asseio e respeito pela vistas. Assim, passar da homolibertinagem obscura ou exibicionista directamente para o casório de cartório sem passar pelo estado intermédio da reserva ecológica, seria o mesmo que pegar numa pele de bezerro e enfiá-la logo à volta da cintura sem a devida lavagem e curtição. Acarinhar e melhorar o exercício da soberana desigualdade não será nunca pela via de mascará-la do seu oposto. O que a natureza e/ou os bons costumes desuniram não deverá a lei unir, fazendo de madrinha de guerra a marujos de doca seca.
Porque sabemos que a luta por uma sã desigualdade nada retira a ninguém, mas antes alarga melhores direitos a mais pessoas, acrescentando dignidade, respeito, reconhecimento e liberdade.
Entre nós, temos agora uma oportunidade para pôr fim ao lariloso processo que visa incluir à pressão uma das últimas corrupções injustificadas na nossa lei. Cabe-nos garantir que Portugal se coloque na linha da frente da luta pelos direitos fundamentais e pelas boas práticas da desigualdade.

Comissão Promotora constituída por ‘gente de carne e osso’

Abílio Pulmão, Adelaide Omoplata, Eduardo Bochecha, Fernanda Glúteo, Joana Tíbia, Nuno Maminha, Luis Falangeta, Francisco Pâncreas, Ana Cotovelo, Alexandra Coxa, António Medula, João Lombinho, Miguel Cartilagem, José Glande, Margarida Costela, Alexandre Virilha, Ricardo Perónio, Inês Beicinho, Diogo Cocsis, Hermano Papudo, Rui Queixada, Vanessa Tripa.

Sincerely,

6 comentários:

Anónimo disse...

Assina-se onde?

Clarinha do Fão

aj disse...

acabou de fazê-lo; não perdemos tempo com burocracias e papeladas, isso é para quem se quer casar.

Xador disse...

Aprovo. Claro. E sem burocracias nem papeladas ainda mais aprovado estaria. Deixemos de lado os casamentos hetero... Pode ser? :)

Xador disse...

Ainda que aquilo fosse uma pergunta, sem resposta ... especifico. Deixemos de lado os Casamentos genuínos. Em que a tonelada de burocracia e papelada pesa pouco ou quase nada. Nem mesmo quando a balança pende para o lado errado.

aj disse...

não interpretei como pergunta à espera de resposta, gracias & sorry.

mas este manifesto tb se sustenta do circulo virtuoso:

não há liberdade sem lei, não há lei sem burocracia, não há burocracia sem papel, não há papel sem arvore, não há arvore sem semente, não há semente sem Deus, não há Deus sem liberdade, não há liberdade sem desigualdade; e aí vai disto.

mas uma balança equilibrada ... só com os pesos falsificados

Xador disse...

Ainda que não pretenda ser uma conclusão derivada do seu "circulo virtuoso", não resisto a fazer um trocadilho nada ligeiro que até podia ser um lema potente para este manifesto. Podia ser assim: "se assim querem, minhas
amiguinhas, deixemos a papelada para a paneleirada!". Isto já vai
surpreendentemente longo ...