Faltam em Português edições decentes do Novo Testamento. Desprovidas daquele aspecto beatizante, ou sem as paneleirices de algumas edições especiais. Seria um favor que se fazia à palavra de Deus e às pobres vítimas da nossa condição de alienados descendentes duma ascese escravizante, se alguma empresa capitalista fizesse uma porra duma edição como se faz num livro normal, com capa normal, papel normal, paginação normal, letra normal, anotações normais, índices normais e, saliente-se, sem ilustrações de merda. Haveria mais leitores, melhores leitores e menos pessoal a ter de se debruçar sobre o empolgante tema da borracha na pila. No entanto, a beleza dos evangelhos não é essencialmente literária, como agora se insiste por vezes, é, sim, uma beleza cultural: no cenário duma revelação com redenção (género bacalhau com todos), Deus expõe-se a uma história, envolve-se numa moral, compromete-se numa teleologia, empolga-se numa retórica, e faz de folha para definir o vento, como diria o poeta, desmentindo o filósofo do grande bigode que um dia escreveu que ‘a vida não é argumento’.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário