Estar verdadeiramente in

Desde que a adolescência foi descoberta por algum lobotomizador de mioleiras precoces do sec. XIX que o homem moderno tudo tem feito para tentar prolongá-la o mais possível. Fazer prevalecer os valores fundadores da idade de todas as perversões & inocências deverá ser contudo declarado como uma das condições prioritárias de sobrevivência, se não enriquecimento, da espécie, que só ganhará em saltar, abolindo mesmo, essa invenção de psicologistas pirosos chamada de idade madura - essa sim causadora dos maiores recalcamentos do homo hemorroidaliens que são os drops de ilusão revestidos a responsabilidade.

Hoje, o dicionário não ilustrado, nas suas primeiras entradas de 2009, (num estilo mais clássico, entradas 1272 a 1280) resolve dar lustro aos grandes princípios da libertação da espécie.

Insegurança – É a madrinha de todas as personalidades de excepção. Seja no estilo de Jesus na Cruz, no de Hamlet em Elsinore, ou mesmo no de Harry Potter em Hogwarts, apenas a insegurança provou, surpreendentemente, assegurar o carinho dos deuses e as melhores ressurreições. Um ser seguro dos sentimentos dos outros acaba a fazer sermões da montanha em penedos da saudade; e sem pistachios.

Insatisfação – É a mais importante variável científica da História depois do fogo no cu. Assistiu a inventores e a especuladores, ladrões, amantes e pintores. Ser consolado é ser comida posta de lado. E a paciência não há-de prestar nem para morrer.

Indiferença – O verdadeiro trago da vida, aquele que passa do esófago ao cólon deixando o estômago a desejar ser rim. Apenas quem saboreou o fel de ser indiferente a quem ama sabe o que é o amor. Apenas quem lutou contra a indiferença sabe o que é uma adversidade. Apenas sabe o que é a tesão quem já pôs os tomates numa balança e não viu o ponteiro a mexer-se.

Inconstância – Quem não quer apresentar um electroencefalograma de garoupa deve ir sabendo pôr o coração ao pé da boca de vez em quando. O homem estável só serve para passadiço. Mas assim tem forte concorrência das tábuas de madeira e dos certificados de aforro.

Incompreensão – Perceberem-nos é uma maçada. Estarmos rodeados de gente que sabe bem o que sentimos e queremos dizer é como ser esparguete numa bolonhesa: seremos chupadinhos antes do café. A incompreensão é a garantia de que estaremos mais fresquinhos no juízo final do que o céu-da-boca de S. João Baptista na travessa de Salomé.

Injustiça – É a 5ª essência da incompreensão, uma espécie de pleno canónico de incompreensão com martírio. A injustiça é o toque de midas da existência, transforma qualquer vidinha sossegada num permanente cálice sagrado para indiana jones. Sem Herodes não havia presépios.

Insolvência – A eterna dívida é praticamente condição sine qua non para que exista vida inteligente e que coçar não faça crosta. Tirando as anémonas, e os lagartos, só os pés virados para a cova indicam que não se deve nada a ninguém. Quando se saldam as contas, ou, pior, quando se passa à situação de credor, é sinal de que os vermes podem avançar pois a gordura está no ponto certo.

Intranquilidade – Quem opta por viver no rés-do-chão da alma porque tem medo das vertigens vai acabar por achar que o cheiro do esgoto afinal nem é mau de todo. O preço da acalmia de coração é poder apenas navegar perto da costa e, mais dia menos dia, depender dos reboques. A consciência tranquila é coisa de reformados, cujo maior pesadelo é deixarem dissolver a toma diária na sopa de feijão.

Inconveniência – Levar a vida como decoradores de interiores é o vertiginoso drama da maturidade. Fazer o que deve ser feito, sentir o que deve ser sentido, pensar o que deve ser pensado, foder o que deve ser fodido, é esta a cremalheira do bem-estar-bem decadente. Ora Deus não escolheu uma redenção de playstation, escolheu uma cruz de madeira e vinagre nas feridas. Se queremos caber numa vida teremos de saber vivê-la também com uma fralda de fora.

2 comentários:

Anónimo disse...

Yeah! new year new look!

C.

aj disse...

Yeah.