Acho que abriu vaga em Hipona

Não estando o diabo disponível acabei por vender o meu coração à estatística: não sofro por coisas improváveis.
Deixei por isso de me apoquentar com as derrotas da selecção em momentos chave, deixei de roer as unhas por causa das carreiras europeias da lagartada, e não alimento ansiedades em torno de festinhas ternurentas que os meus filhos nunca me darão na volta geriátrica. Por isso, interesso-me emocionalmente apenas com despiques russias-espanhas, ou rangeles-vitalinos canas, ou mesmo rubens de carvalhos-graças mouras, ou seja, querelas inconsequentes para o meu débil coração, ou então invisto sentimentalmente em sucessos garantidos, género: chantagens a filhos pagas a peso d’oiro, aumentos de preços a clientes totalmente dependentes de mim, exploração de fornecedores com igual desespero, enfim, maldades sem pedigree, recheios de confissão que não me ruborizem na frágil posição de joelhos.
Sou, assim, uma pessoa medianamente horrível, um autêntico aspirante a filho de darwin, praticante amador da fórmula testada de explorar os mais fracos e evitar os mais fortes, tudo isto devidamente decorado com um paleio que vai servindo para adiar uma crise qualquer para os lados da famosa meia-idade que, espero, me encontre de péssima saúde, pois nada melhor para levar uma crise a bom porto do que uma filha da puta duma dor nas costas.
Enfim, mas o que me traz aqui a este odioso post é o meu amor à estatística. Sinto que o meu coração lida bem com a probabilidade, os meus afectos lêem os acontecimentos com um filtro de combinações e arranjos que os impedem de se colar a orgasmos impossíveis.
No entanto ainda não atingi a perfeição pois uma das fraquezas que mais me persegue é mentir um pouco quando aqui escrevo.

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