Ora, Pascoela
Apichatpong de Antunes era motorista de táxi em Londres e nas horas vagas um sobredotado neuro-fisio-pato-químico; filho de mãe indiana e de pai incógnito, (mas de cópula registada na bomba nº3 da estação de Antuã, na categoria sem chumbo) só gostava de carros com mudanças automáticas e não aceitava gorjetas porque ia contra a sua religião, que ninguém conhecia, mas que passava por rituais bem determinados com uma máquina de calcular, semelhantes à recitação madrassânica do Corão só que sem tanta exigência para as costas, designadamente vértebras nº4 e 5.
Apichatpong tinha durante anos passado as suas horas vagas, incluindo semáforos com o sinal encarnado, no aprofundamento duma teoria da área das neurociências que concluía ser o cérebro humano muito mais indicado para produzir sentimentos, da mais variada índole, do que propriamente para assimilar, elaborar e reproduzir conhecimento. Assim, com o advento das tecnologias cibernéticas de última geração, estas deveriam servir para libertar o cérebro humano desse trabalho insípido da acumulação de saberes, e ainda por cima maçadoramente selectiva, e permitir que ele se dedicasse essencialmente a estimular sentimentos, que, para além disso, são o que verdadeiramente levamos para a cova, seguida de degradação da carne, juízo final e correspondentes desaguadouros teológicos.
Esta ideia de especialização do cérebro humano fora do âmbito das tarefas de amanuense do conhecimento veio-lhe quando um dia tentou enganar um físico nuclear num serviço entre Heathrow e Piccadily com uma conta de 2.000 libras, tendo recebido como resposta que ele «fosse para o protão que o pariu porque o graveto que lhe tinha custado a ganhar a desenhar bombas de neutrões não serviria para ensaboar a electrona da mãe dele». Ficou-lhe claro que o cérebro, ao ser deslocado para operações de raciocínio, armazenamento e movimentação de ideias e dados, poderia deixar de conseguir produzir eficaz e organizadamente verdadeiras sensações mobilizadoras e constitutivas de bem ou mal estar (nunca lhe tendo interessado a felicidade como variável do sistema).
A Apichatpong de Antunes começou a ficar cada vez mais claro nas suas pesquisas de retrovisor que os cérebros que se especializassem em propiciar para o ser que lhes calhou em rifa um determinado sentimento, e não se desgastassem a recolher e interpretar os múltiplos acontecimentos que a nossa condição - ávida de prolixidade - produziu, em muito pouco tempo conseguiriam sentir praticamente o que quisessem, no e durante o tempo que estipulassem, e tudo isso numa performance absolutamente sincera e sem quaisquer artifícios.
Assim, num teste sem paralelo na neuropsicofisiologia moderna, conseguiu pôr uma prima afastada, natural de Goa e analista financeira da Salomon Brothers, a ter um orgasmo em 2,5 segundos tendo-lhe sido apenas sussurrada a palavra ‘jeropiga’, quando ela normalmente ainda precisava de 19 segundos para ganhar 2 milhões numa operação de futuros com obrigações convertíveis da procter & gamble, e o mais próximo que tinha ficado do clássico êxtase de libido fora num dia em que um fox terrier amestrado lhe tinha lambido a zona supra rotular durante 4 horas a troco de dois rosbifes. Um segundo teste com um historiador de Cambridge foi ainda mais deslumbrante; passado 15 minutos de treino este conseguia chorar baba e ranho durante duas horas por uma tia americana de bigode com problemas na tiroide, - e que só conhecia por lhe ter oferecido ‘O Principezinho’ num natal longínquo - quando, mesmo nos seus melhores tempos de jovem catedrático, levava 1 dia inteiro a decorar a lista do nome dos cozinheiros da Invencível Armada que eram especialistas em tortilha com cogumelos, expediente esse que geralmente lhe servia de muleta pedagógica nos congressos em que os telemóveis eram admitidos.
A prova definitiva da sua tese de que o cérebro é muito mais competente como máquina de sentimentos do que como motor de saber deu-se quando Apichatpong conseguiu ir buscar o Sloterdijk ao observatório de Greenwich, e, antes de chegar a Covent Garden, o gajo conseguiu ter dois flagrantes delitos metafísicos sem espumar da boca, praticamente em menos tempo do que medeiam duas citações de Nietzsche no dragoscópio para explicar o funcionamento do sistema digestivo da baleia azul.
Ciente da revolucionaridade da sua descoberta, Apichatpong acabou por deixar o ofício de taxista, mas o incidente com uma cena de ciúmes mal calculada entre um casal de dinamarqueses surdos-mudos forçou-o a abandonar a prática da sua ciência, e hoje descasca e distribui concentricamente rodelas de cebola num descascall center da mc donalds de Birmingam, enquanto nos tempos livres chora em casamentos e baptizados; passa factura.
Apichatpong de Antunes era motorista de táxi em Londres e nas horas vagas um sobredotado neuro-fisio-pato-químico; filho de mãe indiana e de pai incógnito, (mas de cópula registada na bomba nº3 da estação de Antuã, na categoria sem chumbo) só gostava de carros com mudanças automáticas e não aceitava gorjetas porque ia contra a sua religião, que ninguém conhecia, mas que passava por rituais bem determinados com uma máquina de calcular, semelhantes à recitação madrassânica do Corão só que sem tanta exigência para as costas, designadamente vértebras nº4 e 5.
Apichatpong tinha durante anos passado as suas horas vagas, incluindo semáforos com o sinal encarnado, no aprofundamento duma teoria da área das neurociências que concluía ser o cérebro humano muito mais indicado para produzir sentimentos, da mais variada índole, do que propriamente para assimilar, elaborar e reproduzir conhecimento. Assim, com o advento das tecnologias cibernéticas de última geração, estas deveriam servir para libertar o cérebro humano desse trabalho insípido da acumulação de saberes, e ainda por cima maçadoramente selectiva, e permitir que ele se dedicasse essencialmente a estimular sentimentos, que, para além disso, são o que verdadeiramente levamos para a cova, seguida de degradação da carne, juízo final e correspondentes desaguadouros teológicos.
Esta ideia de especialização do cérebro humano fora do âmbito das tarefas de amanuense do conhecimento veio-lhe quando um dia tentou enganar um físico nuclear num serviço entre Heathrow e Piccadily com uma conta de 2.000 libras, tendo recebido como resposta que ele «fosse para o protão que o pariu porque o graveto que lhe tinha custado a ganhar a desenhar bombas de neutrões não serviria para ensaboar a electrona da mãe dele». Ficou-lhe claro que o cérebro, ao ser deslocado para operações de raciocínio, armazenamento e movimentação de ideias e dados, poderia deixar de conseguir produzir eficaz e organizadamente verdadeiras sensações mobilizadoras e constitutivas de bem ou mal estar (nunca lhe tendo interessado a felicidade como variável do sistema).
A Apichatpong de Antunes começou a ficar cada vez mais claro nas suas pesquisas de retrovisor que os cérebros que se especializassem em propiciar para o ser que lhes calhou em rifa um determinado sentimento, e não se desgastassem a recolher e interpretar os múltiplos acontecimentos que a nossa condição - ávida de prolixidade - produziu, em muito pouco tempo conseguiriam sentir praticamente o que quisessem, no e durante o tempo que estipulassem, e tudo isso numa performance absolutamente sincera e sem quaisquer artifícios.
Assim, num teste sem paralelo na neuropsicofisiologia moderna, conseguiu pôr uma prima afastada, natural de Goa e analista financeira da Salomon Brothers, a ter um orgasmo em 2,5 segundos tendo-lhe sido apenas sussurrada a palavra ‘jeropiga’, quando ela normalmente ainda precisava de 19 segundos para ganhar 2 milhões numa operação de futuros com obrigações convertíveis da procter & gamble, e o mais próximo que tinha ficado do clássico êxtase de libido fora num dia em que um fox terrier amestrado lhe tinha lambido a zona supra rotular durante 4 horas a troco de dois rosbifes. Um segundo teste com um historiador de Cambridge foi ainda mais deslumbrante; passado 15 minutos de treino este conseguia chorar baba e ranho durante duas horas por uma tia americana de bigode com problemas na tiroide, - e que só conhecia por lhe ter oferecido ‘O Principezinho’ num natal longínquo - quando, mesmo nos seus melhores tempos de jovem catedrático, levava 1 dia inteiro a decorar a lista do nome dos cozinheiros da Invencível Armada que eram especialistas em tortilha com cogumelos, expediente esse que geralmente lhe servia de muleta pedagógica nos congressos em que os telemóveis eram admitidos.
A prova definitiva da sua tese de que o cérebro é muito mais competente como máquina de sentimentos do que como motor de saber deu-se quando Apichatpong conseguiu ir buscar o Sloterdijk ao observatório de Greenwich, e, antes de chegar a Covent Garden, o gajo conseguiu ter dois flagrantes delitos metafísicos sem espumar da boca, praticamente em menos tempo do que medeiam duas citações de Nietzsche no dragoscópio para explicar o funcionamento do sistema digestivo da baleia azul.
Ciente da revolucionaridade da sua descoberta, Apichatpong acabou por deixar o ofício de taxista, mas o incidente com uma cena de ciúmes mal calculada entre um casal de dinamarqueses surdos-mudos forçou-o a abandonar a prática da sua ciência, e hoje descasca e distribui concentricamente rodelas de cebola num descascall center da mc donalds de Birmingam, enquanto nos tempos livres chora em casamentos e baptizados; passa factura.
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