Juntar um pouco de filáucia e ripipilar bem por cima
Senhor Calisto era o nome do descalcificador de máquinas Indesit referido na reportagem anterior. Começou a fazer psicanálise porque dizia sentir o corpo como um tambor em centrifugação e a doutora Ludovina vendo aí um caso com fortes potencialidades terapêuticas e, eventualmente, literárias, lá convenceu o homem a deslocar-se de Alhandra a S. João da Talha às terças e quintas depois da bucha.
Doutora Ludovina – Então sr Calisto conte-me lá o que se lembra da sua infância.
Sr. Calisto – O facto que mais me marcou foi quando assisti ao meu pai a abusar duma máquina de secar Candy e tudo com a minha mãe a ver enquanto segurava numa varinha mágica da Bosh.
Doutora Ludovina – Humm… e a sra sua mãe lambia a vareta da varinha ou limitava-se a passar por água?
Sr. Calisto – Se bem me recordo, aviou com ela uma coronhada no pescoço do meu pai, aliás foi a partir daí que ele teve de passar a reparar aspiradores porque não lhe exigiam tanto das costas.
Doutora Ludovina – E essa cena de violência é algo que lhe vem muitas vezes à cabeça?
Sr. Calisto – A verdadeira lição que me veio daí é que as mulheres são ciumentas com tudo o que tenha um buraco, nem que seja do tamanho dum tambor de máquina de lavar…
Doutora Ludovina – Então porque é que escolheu essa profissão e não enveredou, por exemplo, por frigoríficos ou esquentadores?
Sr. Calisto – Basicamente eu acho que gosto de mulheres ciumentas, estão para o meu ego como o amaciador de roupa está para o detergente e…
Doutora Ludovina – Agradecia que deixasse as figuras de estilo para o meu pelouro… diga-me então agora… como descreveria a sua relação com o seu corpo.
Sr. Calisto – Muito má sra doutora, sinto-me, como hei-de dizer…sempre a centrifugar mas parece que não se me alivia humidade nenhuma…
Doutora Ludovina - … Nunca pensou em mudar de marca?
Sr. Calisto – Não sei… afeiçoei-me à Indesit e… mesmo tendo colegas que de vez em quando fazem uma perninha com umas Mieles que são de alto rendimento… mas eu não me sentiria bem…
Doutora Ludovina – Diz-me então que nunca pôs a mão no tambor de outra marca….
Sr Calisto – Bem… um dia estava a tratar duns vedantes ali em Sacavém e pediram-me para dar uma mãozinha num transístor da Blaupunkt… e nem me saí mal para uma primeira vez…
Doutora Ludovina – Mas não sentiu vontade de repetir?...
Sr Calisto – Desde que encontrei e tratei do Blaupunkt dessa freguesa que ela não pára de me telefonar…
Doutora Ludovina – Mas incomoda-o ser um técnico muito desejado!? …
Sr. Calisto – Não é a minha pessoa que procuram mas sim a minha técnica, sinto-me mais usado do que a chave-inglesa que me acompanha… acho que estou transformado num canalizador objecto…
Doutora Ludovina - Humm…conte-me então agora os seus sonhos, sr Calisto.
Sr. Calisto – O que mais se repete é aquele em que eu estou a raspar calcário duma máquina velha e com as aparas faço uma escultura da Vénus de Milo mas com uns bracinhos a segurar num aspirador da Hoover, e enerva-me porque é sempre da Hoover, marca com que eu nunca trabalhei e até embirro…
Doutora Ludovina – Tem uma explicação fácil, como Hoover tem dois ‘o’s’ representa o complexo do sr calisto em não conseguir trabalhar com máquinas de lavar com tambores de duas entradas… Ora e mais…
Sr Calisto – Nos últimos tempos tenho começado a sonhar com máquinas de lavar que são bimbys disfarçadas, e que em vez de lavarem a roupa deitam cá para fora bacalhau à gomes de Sá e polvo à bordalesa…
Doutora Ludovina – Humm..e qual é o seu papel nesse sonho?...
Sr. Calisto – É um papel muito ingrato porque me pedem para provar o bacalhau e eu não gosto… mas noutro dia depois de ter posto um fato-macaco a lavar saiu uma vitelinha de jardineira e aí até acordei bem disposto…
Doutora Ludovina – E não sonha com nada que não envolva electrodomésticos de linha branca?
Sr. Calisto – Bem, naquela fase em que me pediam para tratar dos Blaupunkts sonhava muito com antenas parabólicas, mas também coincidiu com a minha mulher ter fugido de casa…
Doutora Ludovina – Ah, mas isso é um facto relevantíssimo!... não me tinha dito que descobriu que a sua mulher era lésbica!? …É que quando fogem com homens o sonho é com carros de bombeiros, com mulheres é que é com antenas parabólicas…
Sr Calisto – Ainda não me recompus… foi com uma enfermeira do Prior Velho, e ainda para mais eu tinha-lhe montado um exaustor vai para dois anos, mas, lá está, não era Indesit, era Samsung, e eu devia ter desconfiado logo…
Doutora Ludovina – Sim, há mulheres que são umas autênticas samsungas, mas sabe… vai ter de superar isso…
Sr Calisto – Olhe enfiei-me na primeira Fagor que me apareceu… e, bem!... quase que ia dando cabo da minha chave-inglesa porque aquilo tinha mais calcário que a escadaria do Bom Jesus.
Doutora Ludovina – Afagorar as mágoas é também um comportamento refúgio muito relatado, sim, e ainda bem que não lhe calhou uma Ariston, que, têm-me contado, são uma despesona em braçadeiras e anilhas.
Sr Calisto – Nem me diga nada, num dia de desespero pus-me a tentar safar uma cliente com uma Ariston que já tinha as borrachas todas ressequidas e acabei a esfregar-lhe a cozinha com viledas.
Doutora Ludovina – Olhe, senhor calisto, agora vai para casa sonhar mais um bocadinho com fornos encastráveis e amanhã passa-me lá pela marquise porque a máquina de secar está-me a enrodilhar a roupa toda e há anos que não encontrava ninguém com tanta vocação para me passar a ferro.
Senhor Calisto era o nome do descalcificador de máquinas Indesit referido na reportagem anterior. Começou a fazer psicanálise porque dizia sentir o corpo como um tambor em centrifugação e a doutora Ludovina vendo aí um caso com fortes potencialidades terapêuticas e, eventualmente, literárias, lá convenceu o homem a deslocar-se de Alhandra a S. João da Talha às terças e quintas depois da bucha.
Doutora Ludovina – Então sr Calisto conte-me lá o que se lembra da sua infância.
Sr. Calisto – O facto que mais me marcou foi quando assisti ao meu pai a abusar duma máquina de secar Candy e tudo com a minha mãe a ver enquanto segurava numa varinha mágica da Bosh.
Doutora Ludovina – Humm… e a sra sua mãe lambia a vareta da varinha ou limitava-se a passar por água?
Sr. Calisto – Se bem me recordo, aviou com ela uma coronhada no pescoço do meu pai, aliás foi a partir daí que ele teve de passar a reparar aspiradores porque não lhe exigiam tanto das costas.
Doutora Ludovina – E essa cena de violência é algo que lhe vem muitas vezes à cabeça?
Sr. Calisto – A verdadeira lição que me veio daí é que as mulheres são ciumentas com tudo o que tenha um buraco, nem que seja do tamanho dum tambor de máquina de lavar…
Doutora Ludovina – Então porque é que escolheu essa profissão e não enveredou, por exemplo, por frigoríficos ou esquentadores?
Sr. Calisto – Basicamente eu acho que gosto de mulheres ciumentas, estão para o meu ego como o amaciador de roupa está para o detergente e…
Doutora Ludovina – Agradecia que deixasse as figuras de estilo para o meu pelouro… diga-me então agora… como descreveria a sua relação com o seu corpo.
Sr. Calisto – Muito má sra doutora, sinto-me, como hei-de dizer…sempre a centrifugar mas parece que não se me alivia humidade nenhuma…
Doutora Ludovina - … Nunca pensou em mudar de marca?
Sr. Calisto – Não sei… afeiçoei-me à Indesit e… mesmo tendo colegas que de vez em quando fazem uma perninha com umas Mieles que são de alto rendimento… mas eu não me sentiria bem…
Doutora Ludovina – Diz-me então que nunca pôs a mão no tambor de outra marca….
Sr Calisto – Bem… um dia estava a tratar duns vedantes ali em Sacavém e pediram-me para dar uma mãozinha num transístor da Blaupunkt… e nem me saí mal para uma primeira vez…
Doutora Ludovina – Mas não sentiu vontade de repetir?...
Sr Calisto – Desde que encontrei e tratei do Blaupunkt dessa freguesa que ela não pára de me telefonar…
Doutora Ludovina – Mas incomoda-o ser um técnico muito desejado!? …
Sr. Calisto – Não é a minha pessoa que procuram mas sim a minha técnica, sinto-me mais usado do que a chave-inglesa que me acompanha… acho que estou transformado num canalizador objecto…
Doutora Ludovina - Humm…conte-me então agora os seus sonhos, sr Calisto.
Sr. Calisto – O que mais se repete é aquele em que eu estou a raspar calcário duma máquina velha e com as aparas faço uma escultura da Vénus de Milo mas com uns bracinhos a segurar num aspirador da Hoover, e enerva-me porque é sempre da Hoover, marca com que eu nunca trabalhei e até embirro…
Doutora Ludovina – Tem uma explicação fácil, como Hoover tem dois ‘o’s’ representa o complexo do sr calisto em não conseguir trabalhar com máquinas de lavar com tambores de duas entradas… Ora e mais…
Sr Calisto – Nos últimos tempos tenho começado a sonhar com máquinas de lavar que são bimbys disfarçadas, e que em vez de lavarem a roupa deitam cá para fora bacalhau à gomes de Sá e polvo à bordalesa…
Doutora Ludovina – Humm..e qual é o seu papel nesse sonho?...
Sr. Calisto – É um papel muito ingrato porque me pedem para provar o bacalhau e eu não gosto… mas noutro dia depois de ter posto um fato-macaco a lavar saiu uma vitelinha de jardineira e aí até acordei bem disposto…
Doutora Ludovina – E não sonha com nada que não envolva electrodomésticos de linha branca?
Sr. Calisto – Bem, naquela fase em que me pediam para tratar dos Blaupunkts sonhava muito com antenas parabólicas, mas também coincidiu com a minha mulher ter fugido de casa…
Doutora Ludovina – Ah, mas isso é um facto relevantíssimo!... não me tinha dito que descobriu que a sua mulher era lésbica!? …É que quando fogem com homens o sonho é com carros de bombeiros, com mulheres é que é com antenas parabólicas…
Sr Calisto – Ainda não me recompus… foi com uma enfermeira do Prior Velho, e ainda para mais eu tinha-lhe montado um exaustor vai para dois anos, mas, lá está, não era Indesit, era Samsung, e eu devia ter desconfiado logo…
Doutora Ludovina – Sim, há mulheres que são umas autênticas samsungas, mas sabe… vai ter de superar isso…
Sr Calisto – Olhe enfiei-me na primeira Fagor que me apareceu… e, bem!... quase que ia dando cabo da minha chave-inglesa porque aquilo tinha mais calcário que a escadaria do Bom Jesus.
Doutora Ludovina – Afagorar as mágoas é também um comportamento refúgio muito relatado, sim, e ainda bem que não lhe calhou uma Ariston, que, têm-me contado, são uma despesona em braçadeiras e anilhas.
Sr Calisto – Nem me diga nada, num dia de desespero pus-me a tentar safar uma cliente com uma Ariston que já tinha as borrachas todas ressequidas e acabei a esfregar-lhe a cozinha com viledas.
Doutora Ludovina – Olhe, senhor calisto, agora vai para casa sonhar mais um bocadinho com fornos encastráveis e amanhã passa-me lá pela marquise porque a máquina de secar está-me a enrodilhar a roupa toda e há anos que não encontrava ninguém com tanta vocação para me passar a ferro.
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