Habituem-se, pá
Quem ouviu, no rescaldo das eleições, aquele silo de sabedoria chamado Vitorino dizer aos repórteres de turno para se habituarem, todos julgávamos que era um mero jogo floral, uma flatulência verbal de quem tinha a barriga cheia com o leguminoso voto de uma cambada de zarolhos a que pomposamente chamamos (nos) portugueses.
Governados daí em diante pela versão beirã do iluminismo, com o sofisticado método de ‘fazer o que tem de ser feito’, demonstramos em cada dia que passa que suportamos melhor a dor duma vergastada seca e contínua perpetrada por um arrogante de meio da tabela, - uma espécie de paços de ferreira do despotismo esclarecido - do que as cócegas inconsequentes de vaidosos de topo como santanas ou portas, desde que mantenhamos ao mesmo tempo o nosso ego bem nutrido com manifestações de mais ou menos erudita indignação, pontilhada aqui ou acolá com um espírito revolucionário de bancada.
Mas entrámos agora então num novo ciclo de governação: Não só é irrelevante o que pensam, mas também é irrelevante o que dizem e como o dizem.
Ultrapassámos a fase em que os fins ainda justificavam os meios, e entrámos num rodízio em que fins e meios se justificam mutuamente sem perder tempo com causalidades, num hegelianismo amanteigado da serra da Marofa, e que nos são servidos no mesmo prato, com a legitimação do voto a servir nuns dias de espeto, noutros dias de molho, e com a formidável frase: ‘os portugueses sabem que’ a servir de babete.
E para brincar deram-nos os ministros.
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