Feelings auditing
A afectividade entre duas pessoas rege-se fundamentalmente pelas regras contabilísticas das “partidas dobradas”. Custa reconhecer. Mas é a verdade. Felizmente tem uma característica muito especial: em todas as operações vai ficando um saldo que colocamos numa conta de reservas. Vamos depois movimentando essa conta por contrapartida de “ciúme”, “falta de confiança”, “dúvida”, “sedução”, “arrependimento”, “fidelidade”, “carinho”, “compensação” e “renúncia”. Tudo “débitos” e “créditos” jeitosos.
A afectividade ao permitir esta “regulamentação contabilística”, obtém a garantia de ser controlável, e de se poder avaliar a cada momento se o nosso coração é uma presa fácil para um takeover hostil, ou vive “em cruzeiro” arrasando o mercado com a sua prepotência monopolista, ou apenas se arrasta num mero “compra, paga, vende e cobra” que leva à falência a prazo.
O nosso coração é um “órgão” táctico por natureza. Não funciona com grandes planos, e por isso deixa-se conhecer bastante bem nos meros movimentos do “deve” e do “haver”. Felizmente as técnicas contabilísticas vão evoluindo e permitem - sem grandes espinhas - movimentos de “diferimentos” ( antecipando o futuro ) e de “goodwill” ( valorizando as intangibilidades). Consegue-se assim portanto contabilizar a expectativa dum investimento afectivo – que é crucial - ou a diferença entre o afecto que se julga “obter” e aquilo que nos “esforçámos” por ele – no fundo a verdadeira essência da economia dos afectos.
Agora as técnicas contabilísticas também se revelam surpreendentemente válidas para resolver um problema muito frequente nas relações efectivas: corrigir os erros cometidos. O processo utilizado é o do “estorno”. Se por exemplo o “ciúme” foi exibido em excesso poderemos estorná-lo com um acto de “confiança” desmedida; se o “carinho” ficou sem contrapartida por distracção, poderemos corrigir com um “olhar” inesperadamente meigo, e se o “arrependimento” ficou retido na vergonha poderemos recuperá-lo com a “renúncia”.
Mas se acharmos que a contabilidade não é uma técnica suficientemente nobre (e de facto deve ser uma bela seca...) para tratar das poesis dos nossos sentimentos, sempre podemos recorrer à teoria dos vasos comunicantes. É que a física já é coisa mais fina.
Só que no mundo dos negócios diz-se: O que leva uma empresa à falência não é o seu balanço, mas sim a tesouraria. Como nos afectos: o que os derruba não é a sua contabilidade analítica, mas sim não termos com que “pagar” aos que gostam de nós.
Unposted by aj, 2004-03-05 [23:51:14]
A afectividade entre duas pessoas rege-se fundamentalmente pelas regras contabilísticas das “partidas dobradas”. Custa reconhecer. Mas é a verdade. Felizmente tem uma característica muito especial: em todas as operações vai ficando um saldo que colocamos numa conta de reservas. Vamos depois movimentando essa conta por contrapartida de “ciúme”, “falta de confiança”, “dúvida”, “sedução”, “arrependimento”, “fidelidade”, “carinho”, “compensação” e “renúncia”. Tudo “débitos” e “créditos” jeitosos.
A afectividade ao permitir esta “regulamentação contabilística”, obtém a garantia de ser controlável, e de se poder avaliar a cada momento se o nosso coração é uma presa fácil para um takeover hostil, ou vive “em cruzeiro” arrasando o mercado com a sua prepotência monopolista, ou apenas se arrasta num mero “compra, paga, vende e cobra” que leva à falência a prazo.
O nosso coração é um “órgão” táctico por natureza. Não funciona com grandes planos, e por isso deixa-se conhecer bastante bem nos meros movimentos do “deve” e do “haver”. Felizmente as técnicas contabilísticas vão evoluindo e permitem - sem grandes espinhas - movimentos de “diferimentos” ( antecipando o futuro ) e de “goodwill” ( valorizando as intangibilidades). Consegue-se assim portanto contabilizar a expectativa dum investimento afectivo – que é crucial - ou a diferença entre o afecto que se julga “obter” e aquilo que nos “esforçámos” por ele – no fundo a verdadeira essência da economia dos afectos.
Agora as técnicas contabilísticas também se revelam surpreendentemente válidas para resolver um problema muito frequente nas relações efectivas: corrigir os erros cometidos. O processo utilizado é o do “estorno”. Se por exemplo o “ciúme” foi exibido em excesso poderemos estorná-lo com um acto de “confiança” desmedida; se o “carinho” ficou sem contrapartida por distracção, poderemos corrigir com um “olhar” inesperadamente meigo, e se o “arrependimento” ficou retido na vergonha poderemos recuperá-lo com a “renúncia”.
Mas se acharmos que a contabilidade não é uma técnica suficientemente nobre (e de facto deve ser uma bela seca...) para tratar das poesis dos nossos sentimentos, sempre podemos recorrer à teoria dos vasos comunicantes. É que a física já é coisa mais fina.
Só que no mundo dos negócios diz-se: O que leva uma empresa à falência não é o seu balanço, mas sim a tesouraria. Como nos afectos: o que os derruba não é a sua contabilidade analítica, mas sim não termos com que “pagar” aos que gostam de nós.
Unposted by aj, 2004-03-05 [23:51:14]
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