E mais? (meta-metabloguismos #n)

Conta-me como vives;
diz-me simplesmente como são os teus dias,
os teus lentíssimos ódios, as tuas explosões de alegria
e as ondas confusas que te têm perdido
na espuma cambiante de uma alvura imprevista.

Conta-me como vives.
Vem a mim, cara a cara;
diz-me das tuas mentiras (as minhas são piores),
dos teus ressentimentos (deles também padeço),
e desse estúpido orgulho (posso compreender-te).

Conta-me como morres.
Nada teu é secreto:
a náusea do vazio (ou o prazer, é o mesmo);
a loucura imprevista de algum instante vivo;
a esperança que afunda obstinadamente o vazio.

Conta-me como morres,
como renuncias -sábio-,
como -frívolo- brilhas em pura fuga,
como acabas em nada
e me ensinas, é claro, a ficar tranquilo.

Poema: Gabriel Celaya, «Cuéntame cómo vives (Cómo vas muriendo)» (trad. pessoal)
Imagem: «Perspicacia»: © Rafael Múgica (1927-1935), "Los dibujos de Gabriel Celaya"

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