«Os heróis culturais da nossa civilização liberal burguesa são anti-liberais e anti-burgueses; são (...) repetitivos, obsessivos, e indelicados, que impressionam (...) - pelo agudo extremismo tanto pessoal como intelectual.
Os fanáticos, os histéricos, os destruidores do eu – são estes (...) que testemunham o terrível mundo polido em que vivemos. (...) Há certas épocas que são demasiado complexas, demasiado ensurdecidas por experiências históricas e sociais contraditórias, para poderem ouvir a voz do bom-senso. O bom senso torna-se então compromisso, evasão, mentira.
(...)
As verdades que respeitamos são as que nascem do sofrimento. Cada uma das nossas verdades deve ter um mártir. (...) Kierkegaard, Nietzsche, Dostoievski, Kafka, Baudelaire, Rimbaud (..) têm autoridade sobre nós devido ao ar doentio que apresentam. É o seu caracter doentio que lhes dá solidez, é o que os torna convincentes.
Talvez certas épocas não precisem de verdade tanto como precisam de sentido de realidade, um alargamento da imaginação. Pelo meu lado, não duvido de que a visão sadia do mundo é a verdadeira. (...) [mas] A necessidade de verdade não é constante; tal como não o é a necessidade de repouso. (...) O mistério é precisamente o que é negado pela segura posse da verdade, uma verdade objectiva. Neste sentido toda a verdade é superficial; e algumas ( mas não todas) distorções da verdade, algumas (mas não todas) loucuras, algumas ( mas não todas) negações da vida, são fontes de verdade, produzem sanidade mental, criam saúde, e tornam melhor a vida»
Uma leitura e transcrição fraudulentada de Susan Sontag, em 1963, num ensaio sobre Simone Weil incluído em ‘Contra a Interpretação’.
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