Socialismo nos tempos sem cólera


Quando veio a tal revolução dos cravos, alguns mais avisados – na altura também chamados de fascistas - sabiam que se haveria de pagar um preço. Nesse cabaz da democracia estariam os novos armandos varas, as felgueiradas, as quarteiras, as argoladas pinho & lino, sa, os condes Andeiro da 3ª geração, os financiamentos obscuros dos partidos, o eduquês, a parlamentarite, a demagogia em vez do desaforo, a desvergonha em vez da sobranceria, o elitismo bacoco em vez do bolorento, os dedos em riste e os institutos para a prevenção rodoviária. Teríamos uma adaptação lenta, dolorosa - mas sempre atenuada com a boa desculpa «ainda somos uma democracia recente» - alimentaríamos incompetentes com o nosso voto, vasculharíamos dicionários à procura de significados alternativos para ‘representatividade’, e os neo-jacobinismos teriam direito a andar de mão dada com os manás em forma de igreja. Ora o que acho é que não estariam à espera de, nesse mesmo país, e alguns anos depois dum desenhador de piadas ter alegremente posto o Papa com um preservativo no nariz, um gajo qualquer tivesse um processo disciplinar por causa duma piada privada em torno dum soberanete socialista - que, de facto, terminou um curso universitário às três pancadas e adornou currículos - a quem o povo pôs a render numa esquina da história.

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