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A mulher e a ciência


Quando Deus no seu Insondável Ser pensou a mulher, tal como se pode comprovar desde o Gilgamesh até às crónicas da Inês Pedrosa, passando pelas flores-que-não-eram-de-cheiro do Pentateuco, quis criar um ser de intuição e sistemas urinários bastante sensíveis e sofisticados.

Esta enorme capacidade da mulher, que escapa a toda a epistemologia, em se servir do pensamento como outrora se serviu da costela, da serpente, e da maçã, e hoje da saia de racha, são uma marca do género. Ficaram talhadas para chegarem à verdade sem a maçada e o desconforto da comprovação concomitante, da dedução iterativa, da confrontação de teses contrárias, e o conceito de probabilidade afigura-se-lhes mesmo como algo de meramente romântico. Vem daqui o verdadeiro fascínio que as mulheres possuem pelos cientistas da experimentação, da elocubração, da inferência, principalmente daqueles que com um paleio enleante, mas certo e criteriosamente pejado duma tal de fundamentação, conseguem validar aquelas verdades que elas alcançam por pura e fulminante intuição, nessa espécie de misticismo de kitchnete . São exemplos blogosféricos desta paixão, os 'recentes' da f. Câncio pelo rapaz da biologia inventada, ou os da Bomba pelo Freud, ou mesmo da Rititi pelo António Banderas.

Ora, como todos sabemos, a mulher é, em paralelo, a grande mestre da generalização, possui a inigualável mestria em pressentir equinócios floridos à mera presença duma andorinha a gaguejar chilreios, em vislumbrar Junos entre cirros desenhados a algodão doce. Parecia assim um ser talhado (já é a segunda vez, o que indica a minha visão de Deus como Supremo marceneiro) para gerir a economia do conhecimento científico, mas a sua congénita dificuldade abstraccionista impele-a para o reino desse refogado que é a intuição feminina, o verdadeiro ‘je ne sais quoi’ das ciências do conhecimento.

Este verdadeiro fascínio das mulheres por cientistas, por homens que conseguem agarrar-se a um método sistemático que nem um colete de forças para confirmar aquilo que a elas se lhe corre das entranhas para a epiderme que nem uma espécie de linfa sagrado, será um fenómeno historicamente intermitente. Nos dias que correm a mulher sente-se dona de verdades muito delas, coisas que o falocentrismo terá obscurecido ao longo de séculos e que agora elas trarão ao de cima com a naturalidade e a exuberância dum abade de priscos que durante anos foi pudim flan. Ora o que é que este homem das ciências, este neoneantherdal estruturalista, tem que a seduza desta forma peri-orgásmica?

Eu penso que é a parte decorativa do homem das ciências; esses tipos que transformam toda a verdade num preliminar deixando antever climaxes cósmicos, esses verdadeiros laliques do pensamento, quando encaixam na vitrine que a mulher vem construindo à base daquele sentido que vem a seguir ao quinto, põem-na num estado de excitação que só se compara com o do arroz de grelos quando chega perto dos pasteis de bacalhau. A mulher precisa que as suas verdadezinhas sejam apascentadas por homens que se concentrem a descobrir porque têm pêlos a saírem-lhes das orelhas. Steiner escreveu que há uma ‘intimidade determinante entre a morte e a poesia’ e que esta ‘espia sempre a morte com o ciúme de amante’, pois eu acho que as mulheres espiam a verdade com o ciúme das amantes, ou seja, só a podem ver nas mãos daqueles homens que verdadeiramente nunca lhe podem tocar, os cientistas.

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