Com tempo vamos ao tremoço

É evidente que Deus não existe. Primeiro, porque o conceito de existência é algo estafadíssimo e extraordinariamente aborrecido, segundo, porque não é tributável ao ser incompatível com a condição de sujeito passivo, e, terceiros, existir é coisa para pobres de espírito. Dizer-se que é ‘puro ser’, ‘puro acto’, serão meros expedientes metafísicos que, desde filósofos mais desempoeirados a floristas brejeiras, já desmontaram até à exaustão às respectivas freguesias. Por outro lado, Deus, como mera construção da nossa mente, é um conceito bastante atraente e mesmo empolgante se estivermos com a adrenalina no ponto certo, e a bexiga sem atrapalhar. Naquele processo de passagem do homo faber para o homo sapiens acho que nos faltou um bocadinho de calma, dá ideia que saltámos do ferro fundido para os banhos turcos sem ter pelado o rabo todo. Ou, se quisermos, podíamos ter passado de Aristóteles para Kant sem ter passado por S. Tomás de Aquino. Justificar a presença de Deus na nossa vida e no mundo, muitas vezes, é querer explicar o valor duma meloa começando pela inexplicável presença das pevides. Mas Deus, para se levar bem, precisa, de facto, dumas cervejitas. Nunca nos esqueçamos que o primeiro milagre canónico está intimamente ligado a uma fermentação.

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