chalassoterapia


Esta coisa de ainda nem termos conseguido chegar a 12 candidatos para uma câmara falida e dos professores andarem a contar anedotas sobre o Nosso Querido e Virtuoso Primeiro tem-nos desviado do verdadeiro tema que importaria no momento: Isabel Figueira foi trocada por Cláudia Vieira nas campanhas da Triumph. E tal merece uma análise tão detalhada quanto aprofundada.

Aparentemente tudo poderia ser apenas resultado do enlace matrimonial (e sequencial multiplicação celular) que Isabel estabeleceu com o ex-jogador do FCP César Peixoto. Convenhamos que coabitar e partilhar canalizações, estores e ácaros com alguém que tem tanto de ‘César’ como de ‘Peixoto’ poderá efectivamente criar nervoso miudinho e crises de posicionamento civilizacional em qualquer mulher que seja hormonalmente activa e selectiva, e assim lhe prejudicar irremediavelmente as formas e a tonalidade da pele; mas, por outro lado, Figueira ficaria sempre a perder para com outra moça que apresentasse um nome de Rainha, mesmo que seja apenas do Reino das Ameixas e que, para além disso, tenha ainda um rabo visto por uma quantidade inferior de mirones. Quanto ao apelido biválvico de Cláudia, ele faz, como sabemos, uma parte importante do imaginário nacional: um povo que sempre quis ultrapassar a fase de mexilhão, mas apenas o alcança metaforicamente.

Poderia parecer que eu estava a perder tempo com uma frivolidade e ainda para mais a aproveitar-me do efeito fácil de graçolas que envolvam o estatuto curvilíneo e erótico da anatomia feminina, que, isso sim está por esclarecer, não se sabe se deverá mais à selecção natural se ao intelligent design. Mas não. As campanhas da Triumph são um indicador sintético e conclusivo sobre o estado da sociedade portuguesa.

Ora em plena fase da tanga e da reduzida vida para além deficit, o país precisava duma Isabel Figueira; de alguém que transportava uma árvore amaldiçoada no nome, mas que conseguia, à base de pose, e da rentabilização da falta de chicha, recuperar o ânimo e mesmo convencer-nos que esse estado underwearico porque passávamos era uma bênção. O basbaque anestesiante fazia parte integrante do quadro sociológico.

Hoje não. Hoje somos um povo esclarecido, moderno, tecnológico, ciente das suas capacidades, e que, perante as adversidades da globalização, do aquecimento global, e dos certificados rasurados, não claudica. Cláudia é pois a nossa imagem. Escultural, robusta, com uma sinuosidade alicerçada em medidas estruturadas e reformistas. Não será uma Cardinale, mas Isabel também não era uma Pantoja. Hoje, tal como a mulher portuguesa já venceu o estigma do gordinho e baixinho, já pode interromper a gravidez como uma menina culta, crescida e asseada, já pode ser uma heroína do triatlo, contar anedotas porcas e ler a anais nin sem que lhe chamem cicciolina, Cláudia representa esta nova libertação: desistimos de ser bonitos, basta-nos estar convencidos.

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