fábulas e títeres (*)
Era uma vez um rapaz que queria ser tigre e, risca a risca e rugido a rugido, lá foi cobrindo a pele e afiando os caninos. Não era mal agradecido, bem pelo contrário: guardava todos os dias um bom pedaço de erva fresca e tenra para a ovelha que o aleitara e chegava até a fazer vista grossa a pequenas falhas e desleixos. Um dia encontrou-se com os cães de fila mas, ainda assim, não quis deixar de ser tigre. Só havia uma forma de escapar à ira dos cães: pediu a um gato amigo (o bom coração não lhe permitiria sujar as mãos de sangue) que sacrificasse a ovelha já manca, com cuja pele cobriria as riscas ostensivas até acabar a travessia pela matilha (ao cuidado de quem deixaria a carcaça da ovelha a dar ainda farto alimento em caldeiradas e assados vários). Quando deixasse de escutar o som dos latidos poderia finalmente despir-se de incómodos e voltar a luzir riscas e caninos.
O guião da peça era perfeito. Não fora os robertos serem toscos (para o que se exigia teria valido a pena investir, ainda que caros e demorados, na qualidade de uns 'S. Lourenço' criados pela arte da Helena Vaz em vez dos rústicos e não creditados 'do Aleixo') e quer as mãos quer os fios estarem, desde o início, à vista de todos, e haveria ovação de pé, com os encores vários tão ao gosto da pouca exigência quanto da memória efémera dos espectadores portugueses. Mas pena, pena, acabará por me merecer o gato sobre quem recairá, quando cair o pano, o ónus da execução da ovelha e que (a menos que tenha inteligência de calcular uma rápida e estratégica retirada) ficará, doravante, na boca de cena desacreditado e vulnerável aos dentes da matilha. Por conivência ou inocência.
(*) marionetas ou robertos
Era uma vez um rapaz que queria ser tigre e, risca a risca e rugido a rugido, lá foi cobrindo a pele e afiando os caninos. Não era mal agradecido, bem pelo contrário: guardava todos os dias um bom pedaço de erva fresca e tenra para a ovelha que o aleitara e chegava até a fazer vista grossa a pequenas falhas e desleixos. Um dia encontrou-se com os cães de fila mas, ainda assim, não quis deixar de ser tigre. Só havia uma forma de escapar à ira dos cães: pediu a um gato amigo (o bom coração não lhe permitiria sujar as mãos de sangue) que sacrificasse a ovelha já manca, com cuja pele cobriria as riscas ostensivas até acabar a travessia pela matilha (ao cuidado de quem deixaria a carcaça da ovelha a dar ainda farto alimento em caldeiradas e assados vários). Quando deixasse de escutar o som dos latidos poderia finalmente despir-se de incómodos e voltar a luzir riscas e caninos.
O guião da peça era perfeito. Não fora os robertos serem toscos (para o que se exigia teria valido a pena investir, ainda que caros e demorados, na qualidade de uns 'S. Lourenço' criados pela arte da Helena Vaz em vez dos rústicos e não creditados 'do Aleixo') e quer as mãos quer os fios estarem, desde o início, à vista de todos, e haveria ovação de pé, com os encores vários tão ao gosto da pouca exigência quanto da memória efémera dos espectadores portugueses. Mas pena, pena, acabará por me merecer o gato sobre quem recairá, quando cair o pano, o ónus da execução da ovelha e que (a menos que tenha inteligência de calcular uma rápida e estratégica retirada) ficará, doravante, na boca de cena desacreditado e vulnerável aos dentes da matilha. Por conivência ou inocência.
(*) marionetas ou robertos
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