Do cristianismo I
Ainda Bento XVI estava longe de ser Papa (aliás, raramente um Papa foi tão cardeal e um cardeal tão Papa) quando escreveu «Naturalmente que a fé tem as suas fases e os seus estádios, mas é precisamente assim que ela representa o fundamento permanente da existência humana, que é apenas um. Essa é também a razão por que a fé conhece enunciados definitivos (…) Mas isso não significa tão-pouco que essas fórmulas não possam abrir-se mais, para se renovarem e serem entendidas de novo, da mesma maneira que o indivíduo precisa de aprender a entender de novo a fé a partir das vicissitudes da sua vida» (*)
Qualquer pessoa que dê uma relevância específica e séria na sua vida ao acto de acreditar tem de se confrontar com a oscilação do ’objecto’ no qual projecta esse acto de fé. Deus, no nosso acto real de fé, será muitos Deuses ao longo da nossa vida (e até ao longo dum dia) e alimenta a subjectividade da nossa condição como qualquer outra coisa, desde as mais ‘profundas’ (como o amor aos nossos filhos) até à mais superficiais’ (como a disposição dos sofás na sala). O cristianismo traz uma novidade neste processo: ao focar-nos num facto histórico, e por isso vulnerável, permite que a fé cristã se alimente de duas coisas ímpares: o ‘jogo do definitivo e do provisório’ e o ‘jogo do essencial e do acessório’. Deus ‘pensou’ a nossa relação com Ele marcada por um mecanismo subtil que mistura incerteza-exemplo-desafio-certeza. Mas o nó do cristianismo tem muitas formas de se desatar. Cada camelo terá um buraco de agulha só para si, mas também só com um camelo e uma agulha não se consegue crochetar nada de jeito, é preciso, pelo menos, uma boa noção de salvação como suporte. O cristianismo é tanto algo para se viver como algo para se pensar. A história desta coabitação é a história do percurso da Igreja.
(*) não sei ainda se escrevei mais posts, mas os textos-mote são retirados do livro (‘ introdução ao cristianismo’, ed principa, 2005) que saiu das audiências do então cardeal Ratzinger, em 1967, na universidade de Tubinguen.
Ainda Bento XVI estava longe de ser Papa (aliás, raramente um Papa foi tão cardeal e um cardeal tão Papa) quando escreveu «Naturalmente que a fé tem as suas fases e os seus estádios, mas é precisamente assim que ela representa o fundamento permanente da existência humana, que é apenas um. Essa é também a razão por que a fé conhece enunciados definitivos (…) Mas isso não significa tão-pouco que essas fórmulas não possam abrir-se mais, para se renovarem e serem entendidas de novo, da mesma maneira que o indivíduo precisa de aprender a entender de novo a fé a partir das vicissitudes da sua vida» (*)
Qualquer pessoa que dê uma relevância específica e séria na sua vida ao acto de acreditar tem de se confrontar com a oscilação do ’objecto’ no qual projecta esse acto de fé. Deus, no nosso acto real de fé, será muitos Deuses ao longo da nossa vida (e até ao longo dum dia) e alimenta a subjectividade da nossa condição como qualquer outra coisa, desde as mais ‘profundas’ (como o amor aos nossos filhos) até à mais superficiais’ (como a disposição dos sofás na sala). O cristianismo traz uma novidade neste processo: ao focar-nos num facto histórico, e por isso vulnerável, permite que a fé cristã se alimente de duas coisas ímpares: o ‘jogo do definitivo e do provisório’ e o ‘jogo do essencial e do acessório’. Deus ‘pensou’ a nossa relação com Ele marcada por um mecanismo subtil que mistura incerteza-exemplo-desafio-certeza. Mas o nó do cristianismo tem muitas formas de se desatar. Cada camelo terá um buraco de agulha só para si, mas também só com um camelo e uma agulha não se consegue crochetar nada de jeito, é preciso, pelo menos, uma boa noção de salvação como suporte. O cristianismo é tanto algo para se viver como algo para se pensar. A história desta coabitação é a história do percurso da Igreja.
(*) não sei ainda se escrevei mais posts, mas os textos-mote são retirados do livro (‘ introdução ao cristianismo’, ed principa, 2005) que saiu das audiências do então cardeal Ratzinger, em 1967, na universidade de Tubinguen.
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