Amores imperfeitos e outros jardins suspensos

Na realidade, quando se entra em Dezembro o ano já acabou. Por isso, os balanços devem fazer-se já, sob pena de se confundirem com os manjericos dos santos populares.

Temos então meia dúzia de Blogs especiais por motivos diversos, dos quais destacaria o principal: leio, mas tenho alguma vergonha.

Cocanha – Visito este local de pós-medievalismo light com bastante disponibilidade de alma, mas agora apenas de forma intermitente pois já por duas vezes o meu filho mais novo estava ao pé de mim e lixei-lhe completamente a noite com pesadelos e valha-me Deus já não tenho idade para muitas noites em branco, nem posso passar os fins de semana no jardim zoológico a demonstrar ao puto que aquilo é tudo inventado por meninos que pararam nas fábulas, não passaram para as aventuras dos cinco, nem apalparam as miúdas na catequese nem nada.

Dias felizes (last-tapes) – De todas as vezes que o visitei pura e simplesmente nunca percebi rigorosamente nada; por isso continuo a visitar, não diria religiosamente, mas com uma regularidade agnóstica e como uma devoção particular – deviam distribuir terços aos leitores, é uma sugestão, aquilo acompanha muito bem com umas avé marias - na ânsia de algum dia alcançar qualquer coisinha que iluminasse esta minha existência falha de magia e inebriamento; o próprio Michaux ali sentir-se-ia um cartesiano.

Je maintiendrai – Seduziu-me de imediato por ver imagens a pulular por todo lado, absolutamente desenquadradas e encavalitadas umas nas outras. Autênticas metástases gráficas. Poucos sítios poderiam mostrar o ministro Gago entalado entre o Kaloi k’agatoi e os ovos Fabergé, sem esquecer os textos da ‘Guerra e Paz’ em francês, a língua original de Tolstoi, como se sabe. Combina o maior descalabro estético desde o chapéu de mme Sampaio no casamento de Laeticia, com o maior equívoco cultural desde que Pacheco Pereira começou a comprar livros de poesia em alfarrabista, mas aguenta-se bem a ouvir o ‘Choo Choo’ dos Artic Monkeys.

Da literatura – É basicamente um blog que me irrita desde o dedo mindinho dos pés até à moleirinha. Tem essa virtude que me é impossível de contornar, sucumbo sempre, comecei por tirá-lo dos favoritos, até cheguei a instalar um programa firewall especial para grandes secas disfarçadas de oásis, mas não foi suficiente, valha-me Deus, tenho uma vida tão boa que se não arranjar nada que me complique com os nervos até Deus me iria castigar, sei lá, ainda algum filho me saía… lampião (foda-se, e não é que uma saiu mesmo!). É o verdadeiro blog com sabor a suplementol.

Estado civil – Eu aqui, reconheço, tenho pena nem é de mim nem do Mexia, que até deve gozar o pratinho com aquilo, eu tenho é pena do pessoal que vai ler aquela coisa como quem vai a uma via sacra musicada pelo tom waits; há gente que vai lá à procura dum sentido para a vida, duma fórmula de problematismo científico-lírico, dum existencialismo pop, e não sabe que está a ser gozado, nem desconfia que do lado de lá está um gajo a rir-se, há uma neura abútrica, um hienismo (não confundir com eanismo, também não quero mal ao rapaz) que se alimenta do complexo alheio, e que palitará os dentes com o nosso olhar terno.

A sexta coluna – é um blog que tentou inventar o minimalismo chic sem citar churchill , recorrendo à formula clássica dos 3M’s : miúdas, músicas e merdas. É uma fusão entre um Haiku e um Sousa Lara. Cansa um pouco ao fim de 3 linhas, mas depois sente-se que fica incompleto só com 2, colocando-o naquele ponto certo e ingrato que são as 2 linhas e meia, que, compreende-se, é muito difícil de acertar. Acabo assim por ter pena dele porque há dias em que se sente que ele até podia ter ido lá, mas fica a parecer uma música dos Killers cantada pelo antony & johnsons.

Sem comentários: